8 de julho de 1932, no Largo da Sé o comício fervia indignação.
Corria de boca em boca a notícia que Oswaldo Aranha, porta – voz de Getúlio Vargas, encontrava-se em São Paulo, na Vila Kyrial, em Vila Mariana, residência de seu parente Freitas Valle.
Os manifestantes enfurecidos saem rumando para esse local.
O tribuno Ibrahim Nobre fala a seu amigo Menotti Del Picchia que o acompanhava: “Vamos pegar um carro e ir para lá”.
No relato que o autor de “Juca Mulato” fez ao poeta Paulo Bomfim, Ibrahim chegou quando o povo se preparava para arrombar os portões da histórica mansão.
Ibrahim então subiu em uma mureta e encostando o revólver na têmpora brada aos manifestantes: “Paulistas, se vocês mancharem as mãos num gesto de covardia eu me mato de vergonha!”
A multidão que o venerava, respeita sua voz e pouco a pouco vai se dispersando. O orador com aquele gesto salvara a vida do inimigo político, o futuro chanceler Oswaldo Aranha.
Anos mais tarde, o poeta indagou a Ibrahim Nobre o que haveria acontecido se sua ordem não fosse cumprida. “Eu teria me matado, porque há passos que não tem retorno”, explicou Ibrahim Nobre a Paulo Bomfim.
Assim era Ibrahim Nobre que quando promotor, a partir de 1930, bradava no Tribunal do Júri: “Acuso ditadura!”
“Plantava-se no Palácio da Justiça a semente da revolução que lutaria pela lei e pelos brios de nossa gente”, explicou Paulo Bomfim ao lembrar o episódio em um evento da Academia Paulista de História, na sede do CIEE, em 2014.
Aquele longínquo 8 de julho está sendo lembrado agora por este repórter tomado pela angústia neste 9 de julho de 2021, ao ouvir em alto e bom som, ofensas às instituições e à constituição cidadã de 1988 obtida após anos de lutas e sofrimentos.
Cabe ao povo novamente impedir tamanho retrocesso que pode manchar o nome de nosso país como nação livre e democrática.
Aproveito para louvar a memória de Menotti Del Picchia, que cheguei a conhecer em idade avançada e Paulo Bomfim, amigo que tanto me ensinou sobre os acontecimentos relativos ao movimento constitucionalista.
Tanto Paulo quanto Menotti, consideravam a Revolução de 1932 como “a pia batismal da democracia no Brasil.”
Menotti Del Pichia – 1932.