Fatos
Todo dia surge um fato novo que pode ser animador, avassalador, revelador, ponderador e por aí vamos classificando o que nos motiva ou desmotiva. Ou o que nos condena ou que absolve.
Essa dinâmica faz do fato a evidência que pode faltar para esclarecer ou apenas ser distorcida por quem conta um ponto. Lembra-se da brincadeira de criança quando um contava uma pequena história no ouvido da outra? Depois de várias crianças repassando o que pensava que ouviam, quando chegava à última, às vezes, nem sempre tinha noção da história inicial.
Nessa coisa de criança, a ideia era tumultuar. Isso ocorre com boatos e fofocas, que por serem maliciosos distorcem a realidade. O mesmo pode desviar-se da verdade, quando fatos são interpretados à luz do interesse de quem quer manipular um resultado ao seu favor. Mais parecem sem sentido, fora da cronologia, beiram esse ato diz-que-diz ou de rumores distorcidos. Alguém conta uma história que usa de fatos da segunda guerra com a guerra dos 100 anos. Pode?
Se usar o mesmo palco de ações, descobrir as relações que existiam entre a França e a Inglaterra daquela época com as invasões do Dia D, quem sabe se a tese for muito bem pesquisada pode ser que saia uma boa defesa de argumentos encima de fatos. Enfim, os argumentos discorridos irão se justificar com o desenrolar da apresentação.
Teses jurídicas passam pela mesma provação, com argumentos estruturados e bem representados pelos fatos e as verdades que se apresentam numa peça de analise. Cada qual com a sua verdade: do advogado de acusação do de defesa e a verdade conciliatória e da convicção do magistrado. Um fato pode ser um processo, outros são fatos que vem além do processo.
Fatos, enfim, são sobrepostos todo momento. Um processo é a fotografia de um desses momentos. Querer aumentar a história significa querer alterar a história. Isso faz do Direito ser restrito ao que está declarado nos autos. Além disso, pode provocar alguma injustiça. A não ser que aqueles fatos tenham relação com aquele momento em que foram vivenciados. É a dinâmica que completa a história, como a peça que falta de um quebra cabeças.
Considera-se que como os fatos não foram contados, que foram manipulados ou aportados ao interesse de quem estava discorrendo, entende-se que pode ser completado. Já que a verdade pode predominar com a colocação das peças que estavam faltando. Isso é construir o conhecimento daquela tese. Assim, como um acadêmico questiona numa pesquisa as correlações, o juízo pode se valer dessa faculdade de investigação para obter convicção em seu julgamento.
Fatos mostram o que não se pode esconder. Mas, podem ser emocionalmente levados a ponderar seus pesos para o lado de quem os apresenta. Esse narrador contará como aquele episódio lhe impactou, como o caso lhe recorda passagens vividas ou a experiência daquelas passagens que lhe fazem ser mais critico, severo ou ameno.
O fato é que somos reféns de nossas ideologias.
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).