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Blindagem

em Colunistas, Mario Enzio
sexta-feira, 04 de novembro de 2016

Blindagem

Essas coisas que em geral estão ligadas a proteção. Mas, bem que podem ocorrem entre amigos cúmplices.

Coisa moderna essa questão de segurança para você e sua família nas linhas automotivas, essa que é uma inovação tecnológica criada na guerra para proteção contra armas de fogo. Em termos políticos quando se fala em quebra de blindagem está se querendo afirmar que alguém que é de um grupo protegido está sendo colocado do lado de fora. Ficará sem a armadura que lhe daria garantias de ser atingido.

Atos como palavras ou discursos em defesa, processos inescrupulosamente esquecidos ou parados em mesas ou prateleiras de repartições ou uma mídia tendenciosa podem ser alguns mecanismos de proteção. Há outros, evidentemente, que não tenho conhecimento, dado a natureza marginal da engenharia do esconde, cala ou desmente.

Com essa onda de delações, a blindagem pode até ter virado moeda de troca. No mais descarado argumento do “não falo para não prejudicar, mas minha família não será atingida”. O que se passa, na verdade, é que pouco se saberá, porque tudo irá ficar pelos cantos das salas, nos corredores do poder ou nos cochichos e conchavos. Ou será vazado parcial ou totalmente conforme o interesse de algum desafeto ou traído.

Podem imaginar o que se passa entre companheiros de conluio que não ficam imunes ao uso dessas munições em algum tempo futuro. Aquele que um dia foi da turma e hoje não é mais, pode deixar de ser abrigado. Mesmo que isso possa custar algumas perdas com o chamado fogo amigo. Vejam que é coisa de guerra mesmo, pois até envolvem atos de contra informação, para deixar as pessoas aqui do lado de fora sem saber qual a situação que se desenrola.

Em geral, com a velocidade com que as notícias são passadas, nos sobram partes de um todo desfigurado, mutilado, deformado. Afinal, quem falou o quê? Como a coisa está andando? Quem tem razão? Quem é o corrupto? Quando o processo irá conseguir esclarecer?

Não será tão fácil conseguir essas respostas em algum dos casos que vemos por aí. O processo em andamento tem suas fases, recursos e conclusões. Nada tão simples de ser compreendido, quanto mais de ser destrinchado para esclarecer tantas demandas. Ou seja, contente-se com o que estiver sendo dito naquele momento do dia. E nada mais, pois amanhã poderá haver outra petição que modificará o que entendemos hoje.

A estrutura legal que temos é bem robusta, há muitas leis que nos protegem e garantem nossos direitos e deveres. Para uns trilhar esse caminho é um exercício de desencanto quando se depara com o tempo do processo, para outros uma visão de um jogo que oferecem alternativas e saídas plausíveis. É o jogo democrático entre atores sociais e políticos.

O ponto é essa lei do silêncio que é vivida por políticos e afins ou em instituições que precisam se “proteger” até que algo muda de lado. E a blindagem pode não funcionar.

(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).