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Barreira na fronteira

em Colunistas, Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 04 de outubro de 2018

Barreira na fronteira

Sem documento não passa na fronteira. As autoridades são irredutíveis, contra qualquer pessoa que queira entrar no país sem passaporte.

Não levam em consideração se o recém chegado está ou não vivendo em estado de penúria. A magreza do homem, sua pele esturricada pelo sol, quase sem cabelo, não comovem os que têm como missão de fiscalizar todos que chegam. Se o governo de onde vem o homem é uma democracia ou não, se condena opositores à morte, se reprime com violência as manifeatações populares e se os chefes atuais tem o apoio do exército, nada disso interessa. Nada justifica a chegada do homem.

Ainda que o governo local tenha aberto as portas à ele e divulgado que é do interesse do páis que ele seja recebido e abrigado em um lugar de honra na capital. O imigrante não se mexe. Não foi de sua iniciativa a viagem e por isso não se incomoda o que falem dele. Para ele nada importa, nem a opinião dos burocratas sobre sua origem e sua documentação. Afinal há muito tempo não faz outra coisa se não observar os rostos e escutar os comentários que fazem sobre ele e seu povo.

O movimento de imigrantes ganhou contornos políticos. Os partidos de direita, contrários a dar abrigo a eles se fortaleceram. O recém chegado vem da África. Mais uma razão para se fazer uma checagem rigorosa de sua vida e saber se já tem passagem garantida para voltar para lá. Ao contrário de milhares de patrícios que vieram por mar, uma boa parte morreu afogada, o homem chegou de avião.

Quem pagou a passagem uma vez que sua aparência é de um velhíssimo mendigo, com roupas em farrapos e um ar de desespero? Os burocratas não entendem porque já se formam filas para comprar ingressos para vê-lo. Só podem ser defensores dos direitos humanos, gente que não se cansa de desviar dinheiro do governo para socorrer imigrantes doentes e abatidos que procuram o páis para fugir da fome e do terror.

Uma verificação mais acurada descobre que o recém chegado tinha bens como vasos e outros objetos de ouro e prata e na sua declaração de bens consta até mesmo uma carruagem. Consta que era poligâmico e que suas mulheres haviam sido enterradas vivas ao lado de seus animais de estimação. Ainda assim ele foi recebido com pompa e circunstãncia pelo presidente. Os burocratas não se conformavam.
Mais do que a recepção de um imigrante, o governo preparou uma grande parada militar , uma vez que é desta forma que se recebe um chefe de estado convidado. Sim, ele foi convidado e não veio de livre e exponstânea vontade. No seu passaporte consta o nome Ramsés II, nacionalidade egípcia, data do nascimento 1303 a.C, filiação família real; profissão rei de um império africano.

O recém chegado foi levado para a França para tratamento de saúde. Afinal tinha 90 anos de idade quando foi diagnosticado com má circulação. Um exame mais apurado identificou várias fraturas mal curadas e a ameaça de um ataque de bactérias que poderia comprometer todo o corpo de Ramsés II. Bom estão está explicado responderam os mal humorados burocratas da imigração.

Não era um qualquer que chega cheio de trapos e pendurado de filhos para usufruir da rede de saúde e educação paga pelos cidadãos do páis. Por isso foi recebido com pompa e circunstância quando desembarcou no aeroporto de le Bourget e foi levado em carro blindado até as salas frias do museu francês.

Afinal a amizade entre os dois povos era tão antiga, desde quando um general francês obsevou as pirâmides egípcias e disse: “Do alto dessas pirâmides, 40 séculos vos contemplam”. Foi Napoleão Bonaparte.

(*) – É editor-chefe e âncora do Jornal da Record News , tv aberta em multiplataforma.