De acordo com estudos recentes, até 50% das mulheres perdem o emprego, em média, em dois anos após a licença-maternidade no Brasil (FGV). Além disso, as mulheres têm mais probabilidade de sair do mercado de trabalho após terem seu primeiro filho, e não após o segundo ou terceiro.
A perda de qualquer grupo demográfico significativo em qualquer ambiente de trabalho pode ter um impacto de longo alcance na cultura da empresa, sem mencionar a perda de habilidades e diversidade de pensamento que simplesmente desaparecem com esse grupo. Embora muitas empresas continuem a investir na contratação, treinamento e desenvolvimento de mulheres, muitas vezes falta a previsão, infraestrutura ou flexibilidade para mitigar os efeitos posteriores de um evento de vida que pode ser totalmente planejado.
Não são todas as empresas que erram. Na verdade, muitas mulheres retornam da licença-maternidade para encontrar um ambiente de trabalho mais empático, pragmático e flexível, com modelos e mentores prontamente disponíveis. No entanto, como regra geral, as organizações devem continuar a fazer mais para apoiar as mães que retornam. Como uma mãe que criou três filhos, liderou quatro startups de alta tecnologia bem-sucedidas e que agora está em sua quinta posição executiva, abaixo estão três áreas práticas nas quais acredito (com base em minha experiência pessoal) que as empresas precisam se concentrar e realmente investir, se quiserem criar ambientes mais equitativos e progressistas para este grupo de valor:
Reconhecer uma grande transição de vida
Primeiro, é preciso reconhecer que você está passando por uma grande transição, que é a maternidade. Aceite o fato de que você simplesmente não pode ser tudo para todos ao mesmo tempo.
Ao voltar ao trabalho, comprometa-se consigo mesma a fazer um teste por seis meses antes de tomar a decisão de abandonar o cargo. É importante saber que não há problema em reajustar seus prazos e caminhos para o sucesso profissional.
Como mãe, você acaba de adicionar ao seu dia a dia a criação dos seus filhos, além das tarefas de cozinhar e limpar, e só há 24 horas no dia para realizar tudo o que você precisa fazer. Portanto, uma coisa que eu aprendi é saber que não se pode ter tudo ao mesmo tempo, mas se pode ter tudo, com o tempo. É só preciso reconhecer que pode levar alguns anos a mais para que você alcance seus objetivos.
As empresas também precisam reconhecer essa transição e oferecer um apoio prático. Disponibilizar acesso a uma “Sala das Mães” como um espaço privado e tranquilo, ampliar a licença parental (tanto para mães quanto para pais) e oferecer flexibilidade em relação às opções de trabalho são todos elementos-chave que podem ajudar significativamente as mães a gerenciar essa transição para a vida como profissional e mãe em tempo integral.
A importância de criar uma infraestrutura de suporte
Na sociedade atual, é comum as pessoas morarem perto de seus trabalhos e não necessariamente de sua família. Uma grande questão é como as mães que retornam ao trabalho podem equilibrar essa natureza transitória da sociedade atual, onde elas podem se sentir isoladas?
Essa é uma questão importante que as empresas precisam considerar e elaborar ações, especialmente se quiserem oferecer o suporte que as mães precisam para realizar essa transição com sucesso.
Para mim, uma das coisas mais significativas que um empregador pode fazer é criar uma rede acessível e confiável para essas mulheres no local de trabalho. Trata-se de infraestrutura.
Em algum momento, a vida vai se resumir a cuidar das crianças, preparar refeições, limpar e levá-las a seus compromissos, mas como você encontra facilmente uma babá de confiança, grupos de brincadeiras e uma infinidade de outros recursos necessários? Que outras dicas simples do dia a dia suas colegas mães conhecem que poderiam ajudá-la nesse momento? Ou quem está lá (além do seu cônjuge), apenas para dizer: “Você está fazendo um ótimo trabalho” no final de um dia difícil?
Eu aposto que se você olhar para os canais do Slack na maioria das empresas agora, alguns dos mais ativos são aqueles relacionados à parentalidade, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e outros tipos de questões. Isso é ótimo, mas as organizações precisam trabalhar para padronizar tudo isso comunicar exatamente o que está disponível – afinal, são a infraestrutura e a logística que tornam a vida possível, e isso raramente foi tão bem ilustrado como na criação de filhos e na busca de suas aspirações de carreira ao mesmo tempo.
A competência é a chave para a flexibilidade
Eu sou um pouco reticente sobre trabalho flexível porque o trabalho precisa ser feito e nem todas as funções podem ter essa flexibilidade de tempo, especialmente as que lidam presencialmente com clientes. No entanto, existem maneiras de alinhar o objetivo da empresa com os objetivos individuais desde que, tanto o empregador quanto o funcionário, estejam dispostos a se ajustar e a se comprometer um pouco – certamente não existe uma abordagem única que funcione para todos, mas o pragmatismo, a competência e a confiança são vitais para negociar o melhor resultado para todos os envolvidos.
Quando eu trabalhava no eBay, às vezes eu conseguia levar meus filhos para aulas de natação ou tênis no verão às 15h, e eles ficavam muito felizes por eu ir buscá-los no meio da tarde para brincar. Minha chefe, a CEO, foi muito prestativa e conseguimos resolver isso porque ela sabia que podia contar comigo para voltar ao trabalho e trabalhar até as 23h, se necessário, para concluir o que eu precisava fazer.
Desde que os objetivos empresariais e as obrigações dos funcionários estejam sendo cumpridos, as empresas precisam apoiar as mães com um nível de suporte quase que caso a caso, individualmente.
Poder estar presente em aulas de tênis ou natação, ensaios de balé ou recitais de música são memórias que você nunca poderá recuperar como mãe (ou pai) se perdê-las – e elas são tão importantes. Empresas que confiam, capacitam e dão às mães a flexibilidade para poderem vivenciar esse tipo de eventos de vida são provavelmente os tipos de ambientes de trabalho onde as mães se sentirão mais conectadas e, consequentemente, mais propensas a permanecer e buscar carreiras promissoras no futuro.
As mães que trabalham merecem uma carreira, assim como uma vida familiar, e se minhas experiências pessoais servirem de exemplo, existem muitos empregadores compreensivos por aí que valorizam seu talento. Dito isso, sempre há mais a ser feito.
Espero que em um futuro próximo, empresas de todos os tamanhos consigam oferecer a flexibilidade, infraestrutura e recursos necessários para garantir que nenhuma mulher tenha que escolher entre buscar uma família ou uma carreira, excluindo uma ou outra.
(Fonte: Ann Sung Ruckstuhl, SVP & Chief Marketing Officer na Manhattan Associates)