A pirâmide círculo de maslow e a teoria da motivação humana

em Carreira e Mercado de Trabalho
sexta-feira, 07 de março de 2025

Evandro Lopes (*)

A Pirâmide de Maslow, proposta por Abraham Maslow em 1943, tem sido uma das teorias mais influentes sobre a motivação humana, organizando as necessidades em uma hierarquia. A teoria parte das prioridades mais básicas, como alimentação e segurança, até alcançar o topo, onde se encontra a autorrealização.

No entanto, o cenário atual, com transformações sociais, a pandemia de COVID-19 e o aumento do trabalho remoto, tem forçado uma reavaliação dessas preferências. A teoria da hierarquia das necessidades de Maslow foi desenvolvida dentro da psicologia humanista – uma vertente que buscava entender o comportamento humano a partir do potencial individual e da busca pelo crescimento pessoal. Ela é composta por cinco níveis principais:

  1. -Necessidades fisiológicas – Representam as necessidades básicas para a sobrevivência, como alimentação, água, sono e reprodução. Sem a satisfação dessas necessidades, os seres humanos não conseguem avançar para níveis mais complexos de desenvolvimento.
  2. – Segurança – Após atender às necessidades fisiológicas, a segurança torna-se essencial. Ela abrange estabilidade física, financeira, proteção contra ameaças e um ambiente previsível.
  3. – Necessidades Sociais – Neste nível, encontram-se as necessidades de pertencimento e amor. Relacionamentos sociais, amizades, e conexões familiares e amorosas são fundamentais para a saúde mental e emocional.
  4. – Estima – Envolve a necessidade de reconhecimento, tanto interno quanto externo. Autoestima, confiança e o respeito dos outros são fatores essenciais que impulsionam o ser humano.
  5. – Autorrealização – No topo da pirâmide, encontra-se a autorrealização, onde as pessoas buscam desenvolver o próprio potencial máximo, alcançar objetivos pessoais e profissionais, e viver de acordo com valores e propósitos específicos. Durante a pandemia, as necessidades fisiológicas e de segurança se tornaram prioritárias, de maneira semelhante a períodos históricos onde essas eram as únicas preocupações.

O medo de um vírus desconhecido fez com que as pessoas se concentrassem em garantir suprimentos essenciais, proteger a saúde e criar um ambiente seguro em casa. Com isso, foi possível observar uma regressão temporária a comportamentos mais elementares, como o armazenamento de alimentos e a compra de itens de proteção, como máscaras e álcool em gel.

A pergunta que surge é: a Pirâmide de Maslow ainda se mantém relevante no contexto atual? A resposta parece um tanto ambígua. Embora as necessidades fisiológicas continuem essenciais, a tecnologia e o trabalho remoto reconfiguraram a forma como os seres humanos lidam com essas necessidades. Plataformas de entrega e serviços de trabalho online atenderam a necessidades que antes eram mais difíceis de suprir, como a alimentação e a segurança.

Além disso, a autorrealização, que era considerada o topo da pirâmide, passou a ser mais acessível para muitos. A possibilidade de buscar satisfação pessoal, aprender novas habilidades ou explorar hobbies, sem precisar sair de casa, é agora uma realidade para grande parcela das pessoas. Isso sugere uma possível inversão ou sobreposição entre os níveis da pirâmide.

A Geração Z e os Millennials, por exemplo, têm demonstrado uma crescente demanda por equilíbrio, buscando mais do que um simples sustento; e sim um propósito nas atividades, além de flexibilidade no trabalho. A inovação tecnológica, como a automação de processos e a digitalização de serviços, tem sido a resposta a essas novas demandas, ao invés da causa.

. As pessoas estão voltando a ser primitivas? – Outro ponto a ser discutido é se há um novo estágio na evolução humana, ou se, em alguns aspectos, existe uma regressão a comportamentos mais primitivos. O home office forçou a enfrentar de maneira mais intensa as necessidades mais básicas. Em certos aspectos, vidas modernas se assemelham a sociedades pré-históricas, onde o “refúgio” era a segurança e as interações sociais limitadas a grupos pequenos.

Talvez a tecnologia tenha conduzido a uma nova era em que a sobrevivência e o bem-estar estão mais diretamente relacionados ao controle sobre o ambiente digital. A adaptação humana agora não depende apenas do meio físico, mas também de como as pessoas se relacionam com o ambiente virtual. Profissionais que entendem e dominam as novas ferramentas podem ser considerados mais “adaptados” nessa situação.

O conceito de gestão também está sendo redefinido. A gestão Client Driven, que coloca o cliente no centro das decisões, reflete uma tentativa de adaptar-se às necessidades de consumidores cada vez mais exigentes, que buscam um propósito nas marcas com as quais se relacionam. Empresas como LEGO, Nike e Netflix têm utilizado o modelo de cocriação, onde o público participa ativamente na definição dos produtos e serviços, fortalecendo a ideia de que as marcas precisam se adaptar constantemente às necessidades individuais.

. A quarta revolução – Essa é a Quarta Revolução Industrial e o motor é a Inteligência Artificial (IA). A IA está transformando a maneira como o trabalho, a vida e as interações acontecem – com as máquinas e uns com os outros. Essa revolução promete não apenas mudar a dinâmica do mercado, mas também o entendimento das relações humanas.

A IA está automatizando tarefas antes realizadas manualmente, oferecendo novas oportunidades e desafios. Empresas como Amazon e Google já utilizam-a para personalizar a experiência do cliente, criando um mercado mais individualizado. Porém, isso traz consigo a automação de profissões que antes exigiam trabalho humano, como operadores de telemarketing e alguns cargos em linhas de produção.

Essa revolução não se limita a aspectos econômicos; ela também exige um novo tipo de adaptação, que valorize as habilidades socioemocionais, como empatia e criatividade. A colaboração entre humanos e máquinas criará um novo paradigma, onde o potencial humano é amplificado pela inovação.

A análise da Pirâmide de Maslow no contexto atual mostra que, embora as necessidades básicas continuem universais, as prioridades e a forma de atendê-las passaram por mudanças significativas. Considerando todas os marcos que ocorreram de alguns anos para cá, essa abordagem precisa ser reavaliada à luz de novas realidades.

(*) – É CEO e fundador da SLComm, especialista em marketing e neurociência (www.slcomm.com.br/slcomm/).