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Uma avenida chamada crédito para as classes C e D

em Artigos
sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Gustavo Salione (*)

Há dez anos, o mercado de concessão de crédito era muito mais restrito do que vemos hoje.

Ao longo desses anos, vimos dobrar os volumes desta prática por mês. Segundo dados do SGS (Sistema Gerador de Séries Temporais) do Banco Central, concedia-se cerca de R$ 200 bilhões por mês no Brasil, em 2012, sendo que, desse montante, cerca de R$ 100 bilhões chegavam às mãos de pessoas físicas.

Para se ter uma ideia de como isso mudou, este ano, a média mensal supera
R$ 400 bilhões, sendo que, metade desse valor, vai para pessoas físicas. Em termos de carteira de crédito, em fevereiro de 2012 havia R$ 2,1 bilhões de saldo total no país, enquanto em fevereiro de 2022 essa cifra atingiu R$ 4,7 bilhões. Essa mudança não foi por acaso. Em primeiro lugar, cresceu significativamente o número de players ofertando crédito.

Se antes a oferta ficava restrita a grandes bancos que tinham interesse prioritário na população de média e alta renda (enquanto algumas financeiras se voltavam para atender população de baixa renda), no decorrer desses dez anos houve uma série de flexibilizações regulatórias vindas do Banco Central nas regras e na governança, o que permitiram o advento de fintechs e a entrada do varejo em massa como provedores de crédito.

Em paralelo, assistimos a uma revolução tecnológica, que possibilitou a democratização do crédito e a escalabilidade na oferta. O smartphone e demais canais digitais passaram a fazer parte da vida do brasileiro e, com isso, a oferta passou a não depender mais do ambiente físico de uma loja ou agência bancária.
Por fim, e talvez o mais importante, houve uma transformação do ponto de vista informacional.

Antes, os provedores de crédito baseavam seus modelos de risco em informações negativas (restritivas) e de natureza cadastral. Hoje, existe um rico leque de informações no mercado que mistura fontes, como o próprio BC, o cadastro positivo, os dados de consumo, o bureaux e informações não estruturadas, como biometria, além de muitas outras. Com mais informação em mãos, e com as evoluções técnicas de Data Science, é possível precificar melhor o risco do cliente – o que possibilita um aumento natural da taxa de aprovação e dos limites de crédito.

Uma nova mentalidade vem dominando o setor de crédito no Brasil. As fintechs compreenderam que o público C e D era mal atendido pelos provedores de crédito tradicionais e passaram a falar a sua língua. São empresas que têm trabalhado fortemente para melhorar a percepção do cliente, focando na experiência digital. Afinal, a tecnologia permeia todo o ciclo de crédito, desde o momento da concessão, passando pela manutenção, até o final do ciclo, que é a recuperação de crédito. E tem dado certo.

Na parte de concessão, a tecnologia ampliou os canais de aquisição de clientes novos, permitindo a democratização e escalabilidade, alcançando potenciais clientes que, antes, deveriam ir até a loja. Também houve uma revolução tecnológica nas ferramentas antifraude, com biometria que usa técnicas avançadas de reconhecimento facial, como prova de vida e facematch. Ou seja, com mais mecanismos de segurança, concede-se mais crédito.

Para a pessoa física, o crédito significa possibilidade de consumo e de realização de sonhos. Com um cartão de crédito em mãos, a pessoa pode consumir o produto ou serviço que deseja e ganha um fôlego para pagar. Por meio de um empréstimo, a pessoa pode realizar uma viagem ou uma reforma, parcelando o pagamento dentro daquilo que cabe em sua realidade.

Claro que sempre levando em conta a educação financeira: quem assume um crédito tem que conhecer suas possibilidades de pagamento e é fundamental que as empresas tenham iniciativas nesse sentido. Portanto, uma das avenidas que mais devem crescer nos próximos anos é o “crédito como serviço”. Nesse conceito, o crédito não é um fim em si mesmo, mas passa a ser concedido como um produto no formato white label.

Uma empresa de qualquer segmento pode decidir ofertar crédito para sua base de clientes, como forma de fidelização, engajamento e monetização. E como ela não tem expertise em gestão de risco, contrata uma outra que atua bem neste mercado. O risco dessa carteira de crédito pode ser compartilhado ou não, depende do modelo de negócios. E quem mais tem a ganhar neste cenário é o público C e D.

Estamos preparados para este novo momento do crédito. Aproveitar as oportunidades é preciso e o consumidor só tem a ganhar.

(*) – É diretor de risco e operações da FortBrasil (www.fortbrasil.com.br).