Remy Gorga Neto (*)
O que foi ontem não se repete hoje e será diferente amanhã.
Essa afirmativa é uma realidade, mas com uma diferença nos tempos atuais: a velocidade dessas transformações. O que estava mudando com rapidez, agora acelerou de forma exponencial. Abrimos a janela e nos deparamos com o “mundo VUCA”, um acrônimo em inglês para representar o ambiente em que vivemos: “volátil”, “incerto”, “complexo” e “ambíguo”. Isso foi ontem.
Hoje pela manhã, quando abrimos novamente a janela, nos deparamos com “mundo BANI”, um novo acrônimo inglês que significa brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible (frágil, ansioso, não linear e incompreensível, em tradução livre).
Embora ainda não tenhamos nos acostumado com o “mundo VUCA” e com todos os insights que ele poderia nos fornecer para entendermos a nova realidade, essa se transformou tão rapidamente que já exige uma nova linguagem para explicar o mundo mudado. No fundo, transformação em ritmo acelerado!
Deixemos os estudiosos mergulharem nesse oceano de conceitos e terminologias, produzindo ideias que nos ajudem a navegar com mais tranquilidade nessas águas revoltas. Com um olho nas transformações, outro nos desafios diários e com as mangas arregaçadas, as nossas cooperativas estão enfrentando as mudanças e se adequando aos mundos VUCA, BANI e a outros que porventura venham por aí.
Os ramos do cooperativismo, com suas particularidades e mercados distintos e específicos, têm nos apresentado situações diferenciadas, que vão do surgimento de grandes oportunidades a dificuldades enormes. O cooperativismo agro tem se configurado uma das principais âncoras da economia, produzindo superávits na balança comercial e proporcionando segurança alimentar a todos os brasileiros, navegando com ventos favoráveis.
As cooperativas de reciclagem passaram por momentos difíceis com a suspensão da coleta seletiva e triagem, mas hoje se beneficiam da escassez de matéria-prima e veem os seus produtos valorizados pelo mercado, demonstrando, a cada dia, a viabilidade de um negócio quando gerido com responsabilidade e profissionalismo.
As cooperativas financeiras, mesmo com o impacto decorrente da pandemia, conseguiram se planejar e demonstram, mais uma vez, que são instituições consolidadas que crescem em momentos de crise e estão atentas às transformações profundas por que passa o setor financeiro.
Cooperativas de trabalho e prestação de serviços têm desempenhado um importante papel em áreas estratégicas, como tecnologia da informação e assistência domiciliar, promovendo a geração de trabalho e renda para muitos profissionais especializados.
O cooperativismo de transporte individual de passageiros, que vinha enfrentando dificuldades com a concorrência dos aplicativos, teve a situação agravada com a pandemia e a redução da circulação de pessoas. Já o transporte de cargas, com destaque para as entregas domiciliares, está em crescimento e cada vez mais estruturado.
A pandemia afetou em cheio o setor de turismo, um dos que mais sofreram com as regras sanitárias impostas em decorrência da pandemia. Cooperativas que atuam nesse segmento tiveram suas atividades praticamente paralisadas, ocasionando prejuízos e riscos de continuidade. Nesse cenário volátil, incerto, complexo, ambíguo, frágil, ansioso, não linear e incompreensível dos universos VUCA e BANI, as cooperativas do DF procuram encontrar os seus caminhos. Mas temos uma convicção.
Nessas profundas e rápidas transformações, o cooperativismo se destaca como modelo organizacional mais aceito e admirado pelo seu caráter humano e equânime, distributivo e igualitário, confiável e sólido.
(*) – É Presidente do Sistema OCDF-SESCOOP/DF.