Luiz Roberto Gravina Pladevall (*)
O Brasil é um país que caminha para o passado. As políticas públicas não conseguem atender às crescentes demandas essenciais da população.
A universalização dos serviços de saneamento básico e o abastecimento de água potável é um dos exemplos que relegamos a segundo plano, enquanto os problemas se multiplicam em todos os estados brasileiros. A democracia é, sem sombra de dúvida, uma conquista inestimável, mas o calendário eleitoral se transformou na régua que dita o andamento da gestão pública e o planejamento de longo prazo se desfaz na burocracia.
A cada mudança de governo recomeçamos os trabalhos e avançamos aleatoriamente, sem qualquer definição de prioridades, investimentos ou prazos. Nesse viés sem ritmo, vamos caminhando em solavancos, sem realmente conseguir alcançar nossos objetivos. A engenharia nacional tem muito a contribuir para mudar esse panorama, inclusive inibindo a corrupção e garantindo empreendimentos que realmente atendam às demandas da população.
São os projetos de engenharia, elaborados com critérios rigorosos e completos, que definem exatamente todas as etapas de um empreendimento. Eles estabelecem desde a concepção de um projeto completo, passando pela licitação e contratação de companhia responsável, até a fiscalização e a conclusão das obras. Esses projetos são capazes de detalhar os custos de cada etapa de um empreendimento, reduzindo margens de erros e inibindo o desperdício e o uso inadequado do dinheiro público.
Sem um projeto detalhado, ficamos à mercê dos interesses das empresas executoras do empreendimento e corremos sérios riscos de receber obras e serviços em desacordo com suas reais necessidades. As experiências de planejamento de médio e longo prazo se multiplicam em várias nações. Regiões como a Califórnia (EUA) e uma boa parcela da Austrália, por exemplo, enfrentaram longos períodos de escassez de água. O problema afetou milhões de pessoas, mas foi superado com planejamento.
As autoridades seguiram esse planejamento, que é atualizado e ajustado anualmente, para reverter a falta de recursos hídricos nessas localidades. Já na Europa, especificamente a região de Lisboa alcançou índice de 7,9% de perdas de água graças a um sofisticado programa de redução e rigorosa gestão. O indicador é bem inferior ao da média brasileira (37%).
Vale ainda ressaltar que o planejamento contribui para o estímulo às companhias de engenharia e consultoria. O segmento é fundamental para o desenvolvimento do país pela capacidade de reunir os melhores talentos e promover inovações para soluções adequadas às nossas verdadeiras demandas. Além disso, a capacidade técnica dessas corporações são, no caso brasileiro, motivo de orgulho por oferecer esses serviços para outras nações, uma forma de reconhecimento do nosso know how.
Precisamos avançar nas propostas de prover o país para as próximas gerações. Um dos caminhos é enfrentar esses períodos de dificuldades econômicas consolidando um banco de projetos que, diante de suas características estratégicas, podem ser imediatamente aplicados em momentos com melhores condições de investimentos. Assim nos antecipamos às demandas futuras, sem a necessidade de começar tudo da estaca zero.
Com planejamento, coragem e determinação, podemos colocar o desenvolvimento brasileiro no caminho certo.
(*) – É presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).