Josilmar Cordenonssi Cia (*)
Estamos vivendo momentos de flexibilização errática do isolamento social, algumas regiões ganham mais flexibilidades.
Outras, no entanto, voltam a endurecer por conta do recrudescimento da demanda por escassos leitos de UTI. Parece que perdemos a oportunidade de controlar a curva de contaminação no seu início, deixando de aprender com os erros e acertos dos países que sofreram os primeiros impactos da pandemia, tendo um isolamento social de baixa qualidade que vai nos tomar mais tempo para voltar a ter uma rotina mais próxima do que se costumou dizer de “o novo normal”.
A falta de uma coordenação de esforços do poder público e a politização de assuntos puramente tecno-científicos levou a desinformação e desmobilização de boa parte de nossa sociedade. Apesar disso, os primeiros indicadores de atividade econômica a partir de maio parecem indicar que os piores cenários, queda superior a 10% do PIB, podem ser descartados. O relatório Focus, que vinha sempre aumentando a queda prevista para o PIB semana após semana, hoje, apontou uma melhora.
Em vez de cair 6,54%, agora se espera uma queda de 6,50% do PIB. Ou seja, as expectativas pararam de piorar. Com esse cenário, provavelmente, a queda no segundo trimestre não será tão forte quanto o esperado, era esperado uma queda entre 8 e 10% em relação ao primeiro trimestre. Entretanto, dado o alastramento da doença em todo o território nacional e a volta errática (e prematura?) às atividades “não essenciais”, isso deverá comprometer, pelo menos parcialmente, o ritmo esperado da retomada.
O desemprego deverá ter uma piora até o final do ano. A taxa de 12,9% de desemprego em maio, de acordo com a PNAD contínua do IBGE, ainda é baixa por causa da baixa procura por emprego. Mas, o que chamou a atenção de todos é que mais de 50% da população economicamente ativa está sem emprego formal ou informal. Muitos entenderam que não compensava buscar emprego quando muitas empresas estavam fechadas ou demitindo.
A recuperação do emprego tenderá a ser mais devagar do que toda a economia, pois os setores de que mais empregam, tendem a ter uma retomada mais tarde e lenta. É o caso do setor de turismo, bares e restaurantes, dentre outros. O aumento do comércio eletrônico também é um fator que deve mudar a estrutura do comércio tradicional, diminuindo a capacidade de oferta de emprego.
Partindo desse ambiente tumultuado nessa fase de flexibilização, das medidas de compensação de queda de renda de uma parcela nada desprezível da população e aumento do crédito ao setor privado, a força da retomada está ligada agora às expectativas em relação a continuidade e eventual aceleração das reformas econômicas.
A aprovação do marco regulatório do saneamento básico pode ser um grande instrumento de absorção de mão-de-obra em todo o país. Outras privatizações ou concessões, que devem ser encaminhadas ainda esse ano, não terão tempo para ajudar em 2020. Já as reformas econômicas voltadas para o controle de gastos e a melhoria do sistema tributário, além de afetar as perspectivas de crescimento de médio e longo prazos, podem também trazer confiança no curto prazo aos empresários e consumidores.
Enfim, a queda do segundo trimestre talvez seja menor do que o esperado, mas o caminho para a retomada ainda nos reserva uma série de incertezas e desafios.
(*) – Graduado em Economia, mestre e doutor em Administração de Empresas, é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.