Fabio Almeida (*)
Ao mesmo tempo que a pandemia nos isolou, ela também acelerou outras formas de nos mantermos conectados com o mundo.
Nos estabelecemos como indivíduos multiplataformas, buscando nas interações à distância comodidade e bem-estar em nosso cotidiano. Para tanto, dispomos de tecnologia. E, nesse aspecto, vale lembrar que alguns recursos se renovam de acordo com as necessidades do meio. Redescobertas sobre a utilidade de certas invenções, aliás, não são novidade especialmente na sociedade pós-industrial.
Nessa categoria de revisão de finalidade, podemos citar dois bons exemplos.
Um deles é o do refrigerante de cola que surgiu inicialmente como um xarope revigorante para o sistema nervoso, isso ainda nos fins do século 19. O outro é o AAS (ácido acetilsalicílico), centenário remédio contra febre e dor que se notabilizou também como um importante auxiliar na prevenção de infartos e AVCs.
Quando, em meados dos anos 1990, uma empresa do Grupo Toyota criou no Japão a primeira linhagem do QR Code, possivelmente não imaginava que, quase 30 anos depois, esse quadradinho que é, na verdade, um código de barras bidimensional mudaria a dinâmica da relação entre marketing, publicidade e televisão.
Sua primeira função foi a de classificar peças de carros. Atualmente, as aplicações do QR Code são bem mais diversificadas, e isso muito graças à popularização dos smartphones. Afinal, eles têm um papel preponderante na sequência de conexões que levam, por exemplo, um telespectador até o site ou a loja virtual de determinada marca. Ao apontar o celular para um QR Code na tela da TV, a pessoa é conduzida para um endereço na internet, configurando o cruzamento entre a publicidade off-line e a online.
Essa integração entre diferentes mídias também possibilita a mensuração do tráfego das campanhas em televisão que não possuem conexão com a internet. O engajamento dos consumidores através da telinha faz todo o sentido em um contexto de quarentena em que o consumo da TV aberta e da paga, bem como o dos aplicativos de streaming de vídeo, cresceu mais de 20%, segundo pesquisa realizada pela Kantar IBOPE Media.
Lembremos ainda que a TV aberta e a por assinatura abocanharam em 2020 o equivalente a 57,8% de todo o investimento em publicidade no Brasil, de acordo com o Cenp (Conselho Executivo das Normas-Padrão), que reúne os principais anunciantes, veículos de comunicação e agências de propaganda do país. Nesse período, vale citar o case do Big Brother Brasil 2020.
Na ocasião, a interligação entre diferentes plataformas e meios para a mesma mensagem potencializou os resultados obtidos pelos patrocinadores do programa.
Eles detectaram um volumoso aumento de tráfego em seus sites e lojas online graças ao recurso do QR Code, que, ao ser escaneado na tela pelo smartphone, levava a ofertas nos endereços eletrônicos dos anunciantes.
Tal estratégia de crossmedia tende a permanecer no pós-pandemia. Isso porque ela se encaixa perfeitamente em nosso perfil multidirecionado, que busca ampliar os pontos de contato e convergência mesmo quando está na companhia apenas dos gadgets ou das extensões eletrônicas de presença no mundo.
O QR Code, então, se torna mais um importante instrumento de ampliação de intersecções, em que cada um pode estar conectado mesmo estando em seu quadrado. E, a partir dele, a publicidade ganha outras formas – e novas medidas.
(*) – É Managing Director da Gamned Brasil (https://pt.gamned.com/).