Marcelo Niel (*)
Há alguns anos, tem-se percebido um aumento da procura por atendimento psiquiátrico por parte de professores do ensino médio de escolas públicas, sejam elas municipais ou estaduais.
Depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático têm sido os principais diagnósticos para esses trabalhadores e, não raras vezes, muitos deles acabam necessitando permanecer afastados do trabalho por longos períodos. E por qual motivo? O nome da “doença” que causa essa doença é violência.
O professor tem sido vítima de vários tipos de violência, um monstro de várias cabeças que não ataca silenciosamente: gestores truculentos e insensíveis, perseguições e assédio moral no ambiente de trabalho; violência psicológica e mesmo física por parte de alunos e até pais de alunos; remuneração insuficiente, que obriga professores a cargas horárias triplas, exaustivas e inviáveis do ponto de vista da saúde.
Tudo isso muitas vezes vem em bloco e se soma aos problemas nas vidas pessoais desses que, muitas vezes, escolheram a profissão pelo sonho em exercer a vocação de ensinar, o que tem se tornado cada vez mais difícil nesse contexto tão árido. A violência não para por aí. Grande parte dos professores que precisa recorrer ao atendimento psiquiátrico nos hospitais aos quais tem direito, se vê desamparado e descoberto de um atendimento de qualidade.
E quando necessitam se afastar do trabalho, têm seus direitos muitas vezes negados, com suspensão e negativas de licenças. Além disso, quando afastados do trabalho, perdem muitas das premiações e seus rendimentos são drasticamente reduzidos, num momento bastante crítico de suas vidas.
O cenário é bastante drástico e as soluções parecem cada vez mais difíceis de serem encontradas. Aos iniciantes na carreira, pode ser um pouco mais fácil, porque há mais chances desse professor encontrar novos caminhos profissionais, seja na rede de ensino privada ou até mudando de profissão; mas como resolver o dilema de professores que dedicaram sua vida ao ensino e suas opções profissionais se encontram mais estreitas?
Num momento em que o ensino público se encontra cada vez mais sucateado, a saúde psíquica dos nossos mestres vai sendo cada vez mais estrangulada. Mais recentemente, um novo ataque: a chamada “Escola sem partido” e o aumento da vigilância sobre o livre pensamento daqueles que teriam por função primordial desenvolver o senso crítico e a capacidade de reflexão nas mentes dos indivíduos em formação.
Diante de problemas tão complexos, o risco de adoecer mentalmente se torna uma rápida e crescente realidade. Entretanto, uma vez que se adoece é imprescindível que se busque por tratamento, sendo que muitas vezes o apoio psiquiátrico com medicações se faz necessário. Além disso, o apoio psicológico é de fundamental importância, porque é preciso, com a ajuda de um profissional capacitado, fortalecer-se para poder garantir a volta ao trabalho ou até tomar decisões que envolvam novos rumos profissionais.
Mas antes de adoecer, é recomendável que esses profissionais procurem apoio psicológico preventivo: psicoterapias, atividade física, atividades artísticas e de lazer podem funcionar como válvulas de escape para o estresse ocupacional e afastar as doenças para longe.
(*) – É Médico Psiquiatra – CRM 97.875 – e Doutor em Ciências pela UNIFESP