Eduardo Küpper (*)
Apesar da forte crise econômica pela qual passamos nos últimos anos, esse foi um dos períodos em que o brasileiro mais empreendeu
Dados da última pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada pelo Sebrae, mostram que a taxa de empreendedorismo no País foi de 39,3%, o maior índice dos últimos 14 anos e quase o dobro do registrado em 2002, quando a taxa era de 20,9%. Quando comparada internacionalmente, a taxa de empreendedorismo brasileira é superior à dos Estados Unidos, México, Alemanha e dos países que compõem o Brics, por exemplo.
Durante o triênio 2014/2016, a situação de crise política e econômica se instalou no Brasil e aflorou o chamado empreendedorismo por necessidade. O fato é que empreender se tornou uma alternativa do brasileiro para contornar as dificuldades que a economia vem passando.
Analisando a taxa de empreendedores iniciais (Total Entrepreneurial Activity ou TEA) por escolaridade, constata-se que o Brasil é o único país pesquisado em que as pessoas que mais empreendem tem a escolaridade entre primeiro grau completo e segundo grau incompleto.
Quem mais empreendeu foram aqueles que tinham secundário completo. Ou seja, nesses anos o empreendedorismo por necessidade imperou no Brasil. É evidente que a taxa de empreendedorismo está diretamente ligada à escassez de oportunidades formais. Prova disso é que a maioria das novas empresas são abertas no modelo de microempreendedor individual (MEI), e a representatividade dos MEIs no mercado cresceu junto com o desemprego.
Ou seja, basicamente o empresariado brasileiro, que até então não tinha tido tempo ou dinheiro para se especializar, está empreendendo e tocando seu negócio no feeling. Enquanto isso, outros países como, por exemplo, os EUA investem na formação e capacitação de empreendedores. No entanto, a garra e a intuição nem sempre são o suficiente para a administração de uma empresa de sucesso. Há situações em que o feeling embasado em percepções pode ser importante, porém é rotineiramente exceção.
Se os novos empreendedores se livraram do fantasma do desemprego, eles agora têm outro desafio: fazer seu negócio vingar. Ainda segundo o Sebrae, 23% das empresas no Brasil fecham as portas nos dois primeiros anos. Esta discussão ganha mais relevância quando a matéria é inovação, onde os critérios para a decisão de lançamento de um produto ou serviço não têm base de comparação. Normalmente quando alguém tem uma ideia inovadora e quer vende-la, acaba focando nos pontos positivos, vivência pessoal e principalmente paixão. Vale lembrar que esses pontos não são o suficiente para atrair uma maior atenção do mercado e, consequentemente, investimentos.
Enquanto quase metade dos empreendedores brasileiros foram motivados pela necessidade e não por uma oportunidade observada no mercado, nos Estados Unidos apenas cerca de 14% tiveram essa motivação, ainda considerando dados da GEM. Além disso, os estudantes brasileiros que vivem aqui são muito pouco expostos ao conceito e alternativa de empreender. O ensino tradicional no Brasil incentiva os jovens a buscar um emprego, seja na iniciativa privada ou na pública. Na maioria das vezes, os alunos não são apresentados à possibilidade de empreender como uma alternativa à carreira em uma empresa, e se prendem ao sonho de ter uma vida estável.
O fato de a educação empreendedora brasileira também não estar alinhada ao que se pratica em outros países é um entrave à essa mentalidade. Em linhas gerais, é evidente que o brasileiro tem um potencial pouco explorado. Empreender é algo que está em nossas veias. Mas, independente do nosso talento natural, essa é uma prática que precisa ser estimulada e disseminada de forma mais técnica e abrangente e todos as camadas da sociedade.
O empreendedorismo por aqui pode – e deve – crescer muito. Mas que não seja apenas por necessidade.
(*) – É MBA pela Wharton Business School e MA em Estudos Internacionais pelo The Lauder Institute, ambos na Universidade da Pensilvânia e Co-fundador da Wharton Alumni Angels Brasil.