João Vitor Chaves (*)
Eu me formei técnico em eletrotécnica e automação industrial aos 16. Logo em seguida, eu fui para a faculdade de Engenharia Bioenergética.
Durante muito tempo, acreditei que os únicos cursos superiores realmente úteis para a sociedade eram os ligados a saúde e ciências exatas. Para mim, todo o resto era dispensável e, de certa forma, um gasto desnecessário de dinheiro. Hoje, após me envolver com inovação, empreendedorismo e educação, vejo o quão cego eu estava para as mudanças que acontecem no mundo. Nosso sistema educacional ainda foca em formar pessoas para o mercado de trabalho.
Mesmo as universidades que, na teoria, formam pessoas para liderar o desenvolvimento de novas tecnologias e possibilidades, falham na educação que vai além da profissão. A verdade é que qualquer função – que possa ser reduzida a uma série de tarefas lógicas, estruturadas e repetitivas – passará a ser feita por um robô muito em breve. A combinação da inteligência artificial e automação está criando uma nova realidade para a sociedade. Ser muito bom em matemática não significa o mesmo que há alguns anos.
Na última década, decorar cada frase de um livro de história poderia até ser impressionante e ajudar no seu mestrado. Hoje em dia, porém, muitas dessas tarefas já são feitas por um celular. Humanos são péssimos robôs. Precisamos de muito tempo para sermos treinados (e re-treinados). Nós ainda necessitamos de muita manutenção e quanto mais experientes ficamos, mais queremos receber, mais paramos para conversar, mais precisamos de férias e folgas. Em resumo, somos muito ruins do ponto de vista do mercado.
Por isso, ao invés de treinarem as próximas gerações para fazerem trabalhos que serão desenvolvidos por robôs, deveríamos nos focar em ensinar a próxima geração a criar coisas novas. Devemos mudar o foco do sistema educacional para habilidades intrinsecamente humanas (nossa “unfair advantage” na competição contra as máquinas) para, assim, podermos aproveitar a liberdade que teremos e levar o mundo para a próxima era de desenvolvimento. Separei algumas questões que precisam ser respondidas para darmos o pontapé inicial:
1. Estimular o pensamento crítico – Como fazer melhores perguntas? Como questionar o que é proposto e buscar novas soluções? Como lidar com questões ambíguas e estimular a exploração de novas possibilidades? Um bom sistema educacional deveria estimular a fazer o novo ao invés de ensinar a seguir regras e padrões impostos.
2. Criatividade – Como fazer as coisas de uma forma diferente da atual? Como melhorar o que existe? Como criar e implementar novas ideias?
Em breve, todo trabalho que não envolva criatividade desaparecerá, por isso, deveríamos estimular e ampliar a capacidade criativa dos estudantes.
3. Habilidades Interpessoais – Como se relacionar com outras pessoas, criar laços e conexões que permitam ampliar o efeito e a capacidade dos dois pontos citados anteriormente? Como usar a persuasão e resolver conflitos? Não estou falando que deveríamos parar de ensinar matemática, regras e métodos nas escolas e universidades. O que estou dizendo é que o foco não deveria ser aprender a fazer contas ou decorar fatos, mas,sim, ensinar a usar isso para criar algo novo, algo que nenhum robô possa fazer.
Precisamos parar de treinar as pessoas para serem robôs ruins e passar a capacitá-las para serem humanos excepcionais.
(*) – É COO da casa de análise financeira Suno Research e fundador do Empreenda Junto, 2º Maior comunidade online de empreendedores do Brasil. Agraciado com o título de ‘Teacher Of New Ventures And Leadership’ pelo MIT/GEB.