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Para quem não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve

em Artigos
sexta-feira, 11 de abril de 2025

Bruno Borgonovo (*)

A frase que inspira este texto é uma adaptação de um dos diálogos mais célebres da literatura, encontrado em “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. Quando a jovem Alice pergunta ao gato Cheshire qual caminho deve seguir, ele responde que depende de onde ela quer chegar. Diante da indecisão da personagem, ele conclui: “Para quem não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve.” Essa metáfora, que ultrapassa o universo da fantasia, aplica-se com precisão à realidade de muitos empreendedores. Sem uma direção clara, qualquer decisão parece aceitável. Mas, sem saber o destino, aumentam drasticamente as chances de se perder — ou fracassar.

No Brasil, milhares de empresas são criadas todos os anos, muitas delas movidas por sonhos legítimos, mas com pouca estrutura. A consequência aparece rapidamente: segundo o Sebrae, cerca de 40% das empresas fecham as portas antes de completarem cinco anos. O que está por trás dessa estatística não é, na maioria das vezes, a falta de esforço ou dedicação, e sim a ausência de planejamento. Ainda de acordo com o Sebrae, 17% dos empreendedores não fizeram qualquer tipo de plano antes de abrir o negócio, e 59% planejaram por, no máximo, seis meses. Nesse contexto, abrir um negócio sem planejamento é como navegar em alto-mar sem bússola, contando apenas com a intuição — e a boa vontade do vento.

Apesar do cenário desafiador, há um paradoxo a ser exposto: nunca houve tantas ferramentas acessíveis para planejar. Existem métodos simples e eficazes, que não exigem grandes investimentos nem formação técnica avançada. O 5W2H é um dos melhores exemplos disso. Baseado em sete perguntas — o quê, por quê, onde, quando, quem, como e quanto custa —, ele permite organizar um plano de ação de forma clara, objetiva e funcional. Bastante difundido na academia e no mundo corporativo, o 5W2H ajuda a estruturar tarefas, distribuir responsabilidades e tomar decisões com base em fatos — não em suposições.

Para quem deseja aprofundar a análise e estruturar a operação com mais robustez, há outras ferramentas consagradas, como o ciclo PDCA, a matriz SWOT, o Business Model Canvas, os OKRs (Objectives and Key Results) e o Design Thinking. Ainda assim, muitas empresas seguem sem planejar. Isso pode ser atribuído à falta de acesso à informação, à ausência de uma cultura empreendedora sólida ou à crença equivocada de que planejar é “coisa de empresa grande”.

Além disso, a urgência em obter retorno financeiro leva muitos empreendedores a “começar fazendo”, na esperança de ajustar o rumo no caminho. O problema é que, em muitos casos, o custo do improviso é alto demais para permitir uma segunda chance.

Planejar é, acima de tudo, um exercício de inteligência prática. É escolher conscientemente o caminho, conhecendo o destino e as condições da estrada. Não se trata de engessar ideias ou inibir a ação, mas de dar direção e sustentação ao movimento. Negócios que planejam sabem onde querem chegar, e, por isso, conseguem dizer “não” ao que não contribui para seus objetivos. Já aqueles que vivem no improviso correm o risco de desperdiçar recursos, tempo e energia em caminhos que não levam a lugar algum.

Em um país onde empreender ainda é, muitas vezes, um salto no escuro, o planejamento pode ser a lanterna que ilumina os próximos passos. As ferramentas existem — simples, modernas e acessíveis. Falta, talvez, a disposição de usá-las. E essa decisão, mais do que estratégica, pode ser o que separa a persistência da teimosia, e o sonho realizado do sonho interrompido. Porque, afinal, para quem não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve — mas nem todo caminho leva ao sucesso.

(*) Empresário, fundador e CEO da BRW Suprimentos.