Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
Os humanos receberam o planeta Terra para que pudessem evoluir através de transitórias permanências.
Os diversos povos deveriam se desenvolver uns ao lado dos outros se pautando em conformidade com as leis da vida e tendo a natureza como a grande provedora e concessora de benesses e riquezas. Com o afã de abocanhar mais e dominar, no entanto, surgiram divisões. O respeito mútuo e a confiança se perderam.
O Mestre Jesus ficou horrorizado ao ver a brutal forma de vida, sem respeito nem consideração, mas isso nada tinha a ver com ideias comunistas ou socialistas, pois ele mesmo era proprietário de um empreendimento de carpintaria com vários artesãos sob suas ordens.
Surgiram os sectarismos que promoveram guerras sangrentas e intermináveis. Sobrecarregada pela superexploração, a natureza aviltada não consegue se reciclar adequadamente e em seu estresse vai entrando em pane, dando margem ao desequilíbrio ambiental.
O tecido social também se vai esgarçando, provocando distúrbios devido à insensibilização. A prioridade dos seres humanos tem sido o consumismo ao qual sacrificam grande parte do tempo que dispõem, pois se enchem de necessidades materiais para serem atendidas, sobrando pouco ou nenhum tempo para o essencial – a própria evolução, não a dos amigos e familiares. Existem muitos produtos bonitos e atraentes, mas a vida não se resume a apenas consumir; há a finalidade essencial para ser cumprida.
O mundo ainda enfrenta o rescaldo da crise financeira. Há muitos produtos disponíveis, mas os consumidores estão com pouco dinheiro e receosos quanto ao futuro. A concorrência para atrair compradores é forte. Nesse ambiente, grande parcela das novas gerações não tem emprego fixo, se deixando dominar pelo desânimo e se entregam aos prazeres como lenitivos. Em vez disso deveriam buscar a compreensão do significado da vida que ficou ocultado sob os escombros dos erros e falsos conceitos. Muitos jovens se servem de bebidas alcoólicas e drogas para atenuar o vazio de suas vidas sem propósitos.
Há muita insatisfação, ódio e violência que se espalham de múltiplas formas inquietando as mentes juvenis, exatamente na fase em que estão saindo da infância e se abrindo para o mundo, para o despertar da alma com saudade da Luz, mas na balbúrdia não conseguem entender a causa de tanta miséria e confusão. O perigo está naqueles que se deixam dominar pela grande insatisfação e revolta, caindo nas garras do ódio manipulado por aqueles que só visam a destruição de tudo.
O recente atentado de Paris, vitimando pessoas comuns, mostra o ponto crítico no qual a humanidade se encontra. O ser humano se desumanizando, semeando ruína, colhendo destruição. Mesmo sob intenso sofrimento, não se esforça para entender as causas, o porquê de o ser humano ter se tornado inimigo do ser humano neste descuidado planeta onde deveriam florescer paz e beleza produzidas pelas mãos dos homens.
A história verdadeira da humanidade raramente é confrontada, pois através dela seria possível descobrir os descaminhos. Mas a humanidade tem evitado encarar os próprios erros, tecendo um véu encobridor das falhas e forjando um mundo de falsas aparências acalentadoras, mas que não resistem a uma análise mais acurada. Ninguém quer se dar ao trabalho de analisar com lógica e lucidez, preferindo se autoiludir.
No entanto, agora os acontecimentos dramáticos se precipitam causando fortes abalos, pois só através deles os seres humanos poderão ser despertados de seu torpor para enxergar a realidade ocultada por mentiras e falsos conceitos, e assim perceberem que valorizaram tantas coisas de baixa relevância perante a vida, esquecendo-se do essencial: conhecer o seu real significado.
(*) – Graduado pela FEA/USP, realiza palestras de qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). Autor de Conversando com o homem sábio; Nola – o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; 2012…e depois?; Desenvolvimento Humano; e O Homem Sábio e os Jovens ([email protected]).