Murillo Torelli (*)
O ano de 2023, marcado pelo primeiro triunfo do terceiro mandato de Lula, não foi tão promissor quanto as manchetes sugerem. O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou um crescimento de 2,9%, mas é necessário enxergar além das cifras e compreender as nuances que cercam essa aparente recuperação econômica. O brilho inicial dos primeiros trimestres, com um crescimento que despertou alguma esperança, não deve ser celebrado prematuramente.
O PIB do primeiro trimestre cresceu, mas logo estagnou, sugerindo que o governo precisa estar atento à realidade e entender que gastar mais não é a solução para estimular a economia. O crescimento inicial parece mais uma herança do governo passado do que uma conquista atual. A agropecuária foi apontada como o grande destaque, com um crescimento de 15,1% em 2023. No entanto, a euforia em torno da supersafra e dos bons preços no mercado internacional não deve obscurecer a falta de sustentabilidade desse desempenho.
As projeções indicam que a agricultura não terá o mesmo desempenho em 2024, alertando para a necessidade de diversificação e investimentos consistentes em outros setores. O setor de serviços apresentou uma alta de 2,4%, e a indústria avançou 1,6%. No entanto, esses números não podem mascarar a realidade de uma economia que, no último trimestre, permaneceu estagnada. É como se estivéssemos assistindo ao voo da galinha, um esforço momentâneo sem uma trajetória sustentável.
A grande preocupação reside no fato de que o governo parece incapaz de reconhecer a gravidade da situação. A persistência em uma gestão fiscal irresponsável tem elevado os níveis de gastos e endividamento público a patamares preocupantes. O Brasil permanece com taxas reais de juros absurdamente altas, inviabilizando oportunidades de investimento e condenando a economia a uma trajetória de crescimento medíocre. A falta de convicção e vontade política para reverter a deterioração fiscal é evidente.
O governo precisa entender que medidas sérias são necessárias para evitar que o voo da galinha se transforme em um mergulho rumo ao abismo econômico. A economia brasileira merece uma administração que compreenda a importância de gastar pouco e bem, focando em políticas que promovam a sustentabilidade e o desenvolvimento a longo prazo.
Caso contrário, estaremos fadados a repetir ciclos de estagnação e frustração. É hora de um despertar político e econômico para o bem do país e de suas gerações futuras.
(*) – É professor de Contabilidade Financeira e Tributária no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.