Morgana Toaldo Guzela (*)
Pan, Copa e, mais recentemente, Olimpíadas, demandaram investimentos “astronômicos”. E quais são os seus legados? O que veio à sua mente? Aspectos positivos ou negativos?
Tanto no Brasil como fora, em momentos de alto investimento como esses, há o constante questionamento, dadas as necessidades em áreas como a saúde, a educação, transporte, segurança, além dos impactos sociais, culturais, ambientais, etc. Porém, uma análise mais criteriosa e de médio a longo prazo é necessária.
Com tais megaeventos, há melhoria na infraestrutura das cidades receptoras, seja com estruturas esportivas, como com vias e meios de transporte e hospedagem, capacitação de trabalhadores, melhores padrões de serviços, novos negócios, desenvolvimento das capacidades turísticas e receptivas da cidade e cidadãos, exposição internacional do país, aumento do consumo, etc. Esses são alguns dos aspectos positivos, com impactos sociais, culturais e também financeiros.
Todavia, os benefícios podem ser maiores se for maximizada, por exemplo, a percepção da importância da prática esportiva e do desenvolvimento de atletas. Ao analisar grandes medalhistas, a cada competição percebe-se que o investimento e valorização dos esportes daqueles países é constante e faz parte de uma política que envolve além dos esportes, áreas como a de saúde e de educação.
Uma constante que independe dos megaeventos, mas que fazem parte da cultura e da política e que trazem contribuições que vão muito além das medalhas, já que é comprovado que com a prática esportiva melhora-se o desempenho escolar, cultural e social, bem como a saúde dos praticantes, minimizando problemas de saúde durante toda a vida. Aliado a isso, cria-se significado para a vida de muitos jovens, que investem seu tempo em práticas saudáveis, diminuindo a criminalidade, a miséria, dentre outras mazelas.
Trazer megaeventos para nosso país deve, ou deveria, suscitar na população e, principalmente nos governantes, tal percepção mais estrutural, que visa aproveitar essa janela de oportunidade aberta, com os altos investimentos, para a construção da infraestrutura necessária não somente para os megaeventos, mas para a sociedade, para os cidadãos que dia a dia trabalham para pagar impostos. Que, de janeiro a abril, trabalham quase que exclusivamente para o sustento de um governo que, apesar de ter sido escolhido pelo voto popular, não fez jus a tal representação, fazendo escolhas partidárias e pessoais, buscando benefícios próprios, sem falar nas corrupções desenfreadas.
Ao analisar casos de sucesso, como o de Barcelona, percebe-se e deve-se aprender que os megaeventos ou outras janelas de oportunidade que abrem possibilidades de grandes investimentos devem ser cautelosamente planejados, com foco na sociedade, no seu desenvolvimento e nos ganhos de longo prazo. Ainda, observa-se que o planejamento deve considerar prazos e investimentos factíveis, impossibilitando manobras que deixem de lado a transparência e a livre concorrência, que facilita o encobrimento de corrupção.
Concluo que os “vilões” não são os megaeventos, seja no Brasil ou fora, mas alguns daqueles que os organizam, que necessitam de maior profissionalismo, imparcialidade e visão de longo prazo, com benefícios para o cidadão. Esses “vilões” o são, por não saberem o real propósito de sediar megaeventos, sabendo que são um meio e não um fim em si próprios. São “vilões” por esquecerem o real propósito de representar sua população.
(*) – É coordenadora do Curso Superior de Gestão de Eventos do Centro Tecnológico Positivo.