Lélio Braga Calhau (*)
Comentar com outras pessoas sobre o aperto financeiro não é uma experiência agradável.
Dói compartilhar as angústias de ter contas chegando e não haver dinheiro em caixa para quitá-las. Quem conhece o “trauma” de ter um cheque devolvido por falta de fundos? A sensação de tristeza nos avassala nessas situações. É um sentimento de impotência, uma frustração enorme e dolorosa com o resultado de decisões financeiras anteriores precipitadas ou feitas, em alguns casos, com indicações de pessoas mal intencionadas e que se revelaram, após meses ou anos, desastrosas. Isso pode afetar a todos nós.
Basta uma compra mal avaliada, como um financiamento de veículo, ou um comportamento compulsivo de compras à médio prazo, para se instalar uma pandemônio na vida do devedor e de toda sua família. Temos, então, que nos “policiar” sempre para que nosso equilíbrio financeiro seja mantido. E se temos família para tomar conta, esse cuidado não deve ser só redobrado; deve ser muito mais intenso.
Eu sempre ouvia pessoas próximas comentando casos assim. Todos nós conhecemos alguns, ou que ocorreram em nossas vidas, ou com amigos e familiares. Ultimamente está acontecendo algo mais doloroso comigo. Pelo fato do nosso trabalho de divulgar a educação financeira e os direitos dos consumidores estar ficando mais conhecido, tenho sido abordado por pessoas na minha cidade, nos fóruns e em eventos do meio jurídico, que se encontram muito endividadas.
Há gente endividada com todo o tipo de renda. Para muitos, a queda surgiu por conta do elevado padrão de consumo, para outros, com nomes mais diversos e motivos mais confusos, a ostentação, a “curtição”, o compromisso único com o presente em detrimento do futuro. Esses são apenas alguns dos exemplos.
Lancho numa pequena padaria perto da minha casa. É um “pastel de vento” de queijo e um refrigerante. Sei que a combinação não é saudável, mas é simples e remete à minha infância. Eu estou ali sentado e quase sempre é do mesmo jeito. As pessoas se aproximam e pedem conselhos financeiros. Vejo nos olhos deles a frustração e a dor de terem colocado a família em uma situação de grave endividamento. É triste ver isso nos olhos das pessoas.
Alguns estão marejados, outros escondem a dor e a vergonha de estarem com dívidas não honradas. Ao contrário do que se ventila, há muita gente honrada neste mundo e há pessoas em desespero por conta de estarem quase “quebradas”. Como promotor de justiça posso fazer muito pouco, já que o Ministério Público não atua judicialmente nesses casos, mas como ser humano, ouço e recomendo que as pessoas procurem advogados, contadores (ajudam muito a calcular novas possibilidades) ou defensores públicos.
Pense muito antes de fazer um gasto fora da sua realidade. Juventude passa, dinheiro voa e os “amigos” somem. Muita gente que ostentava há 20 ano, ou até menos, está hoje na rua da amargura. Sozinho. Se você foi colhido nessa situação de forte endividamento, não se entregue. Levante a cabeça. Vai dar trabalho, mas procure especialistas e renegocie. Troque dívidas por outros empréstimos mais baratos. Analise as taxas de juros e opte sempre pelas mais baixas. Quite ou amortize as dívidas.
Como? De várias formas. Uma delas é vender coisas que já não lhe são mais úteis. Tenho certeza que você tem roupas, um celular, computador ou até uma TV que já não usa mais. Que tal vender esses itens e levantar um dinheiro com o que você já não precisa mais? Há famílias que organizam bazares na garagem para se livrarem do que não usam. Ganham dinheiro e mais espaço em casa.
Outra sugestão é fazer bicos. Encontrar uma atividade paralela fora do horário de trabalho pode dar aquela folga no orçamento. Possibilidades existem milhares. Você pode ser ajudante de pedreiro, de pintor, diarista ou até mesmo fazer artesanatos ou chocolates para complementar a renda. O mais importante é não se abater, nem desanimar diante das dificuldades.
Os chineses dizem que crise abre portas para oportunidades. Toda crise em que me envolvi na vida, de algum modo me serviu para crescimento e amadurecimento. Saí muito mais forte depois de eventos financeiros negativos do passado. Não desanime e respeite o ditado popular de que “o dinheiro não aceita desaforo”. Sua família vai lhe agradecer sempre!
(*) – É Promotor de Justiça de defesa do consumidor do MP-MG. Graduado em Psicologia pela Univale, é Mestre em Direito do Estado e Cidadania pela UFG-RJ, palestrante e Coordenador do site (www.educaçãofinanceiraparatodos.com).