Suelen Salgo (*)
O ano de 2023 marca o início de uma grande mudança na dinâmica do mercado de investimentos. O que inicialmente pode ter sido avaliado como uma simples mudança de nomenclatura ou flexibilização de processos burocráticos, na verdade, pode promover uma verdadeira transformação no mundo dos investimentos. Estou me referindo aos impactos das Resoluções CVM 178 e 179. Ao contrário do que se imagina, as novas regras não se limitam em acabar com a exclusividade dos antigos agentes autônomos, mas sim ampliar a área de atuação desses profissionais, que devem ser cada vez mais cobiçados por distribuidores e instituições financeiras.
As primeiras mudanças começaram a valer em junho deste ano, mas parte delas entram em vigor em janeiro de 2024. De modo geral, a nova legislação define o nome de “Assessor de Investimentos”, acaba com a exclusividade destes profissionais, traz mais transparência no que se refere à remuneração e permite que as empresas possuam sócio investidor.
Todos estes aspectos são importantes, mas há um ponto que merece muito mais destaque: as perspectivas de ganho de representatividade e de influência dos Assessores de Investimentos junto aos seus clientes e aos demais players deste mercado. O fato de poder oferecer serviços e produtos de diferentes instituições e corretoras traz ao Assessor de Investimentos a tão desejada “imparcialidade” na indicação de investimentos.
Todo investidor busca um profissional que possa, de fato, avaliar os seus objetivos de curto, médio e longo prazos e oferecer uma carteira de investimentos que esteja alinha a esses objetivos. Porém, seja em um banco ou em uma corretora, sempre há a incerteza quanto à imparcialidade e até mesmo dúvidas sobre a remuneração do profissional que fez aquela determinada indicação. Ele está me oferecendo esta aplicação porque, de fato, é melhor ou precisa bater a sua meta mensal?
Se souber gerenciar bem este novo contexto e tiver consciência da sua importância, o Assessor de Investimentos conseguirá criar realmente laços de confiança com os seus clientes e será um dos profissionais mais cobiçados do mercado.
Estima-se que haja mais 24 mil assessores de investimentos credenciados no Brasil. A grande maioria,18 mil deles, está vinculada a alguma instituição. Ao acabar com este vínculo, o Assessor de Investimentos ganha liberdade para oferecer a melhor carteira. As instituições financeiras, gestores e distribuidores, por sua vez, precisarão disputar a atenção deste profissional. Se caminhar como previsto, no médio e longo prazos, nenhum investidor decidirá onde colocar o seu dinheiro sem consultar o seu Assessor de Investimento.
Para atingir este patamar, no entanto, os desafios são grandes. Atender estes clientes de forma eficaz, analisar e consolidar as carteiras, comparar riscos de diferentes investimentos e acompanhar o desempenho do portfólio escolhido requer investimentos em infraestruturas robustas, plataformas e outras ferramentas que, até então, eram fornecidas pela corretora ou instituição financeira com a qual possuíam algum tipo de vínculo.
Sem dúvida, as oportunidades para os assessores de investimentos são imensas, mas há uma demanda por consolidação de fundos e carteiras, monitoramento dos investimentos e ferramentas de suporte à seleção de fundos, que até então não existia. Muitos Assessores agora serão gestores das suas próprias empresas. Aqueles que se dedicarem, investirem em infraestrutura e na conquista da confiança dos seus clientes sairão na frente, e, certamente, se tornarão peças fundamentais para a consolidação deste novo cenário do mercado de investimentos doméstico.
(*) CEO da LUZ Soluções Financeiras.