Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
Com o declínio na produção industrial, os gastos públicos ocultaram o encolhimento do potencial de crescimento.
A globalização, iniciada nos anos 1980, permitiu o surgimento de mecanismos de geração de acúmulo de dólares através do avanço de produção massiva de manufaturas com menores custos para colocação no mercado externo, o que gerou complicadas consequências. No cenário do sáculo 21, evidenciaram-se, dentre os resultados da globalização, o choque de competição entre indústrias que pagam salários de até cem dólares por mês, produzindo para o mercado externo, com outras com política salarial tradicional.
Em vez da melhora geral, surgiu uma situação de perda de empregos e da cultura, além do aumento da desigualdade e desarranjo ambiental. O Brasil optou pela valorização de sua moeda diante do dólar. Alguns economistas advertiram, mas o governo manteve essa situação, mesmo diante das reclamações dos exportadores que tinham dificuldades para vender seus produtos frente a desvalorização do dólar que reduziu a competitividade de nossos produtos no exterior, penalizando as receitas de exportações e destruindo empregos.
Porém, as autoridades diziam que a intenção era evitar a exportação de renda e empregos diante da persistente valorização do real. Com o declínio na produção industrial, os gastos públicos ocultavam o encolhimento do potencial de crescimento. Pena que muitos desses gastos foram inúteis e realizados na base de tomar empréstimos a juros elevados. Estamos necessitando de reformas. Há saldo positivo na balança comercial decorrente da exportação de commodities, mas o déficit de empregos é cruel. O dólar se tornou a cobiçada mercadoria financeira que tudo pode, embora envolvida em incertezas.
Quem a produz? Quem a controla? Quem regula as cotações? Qual é o objetivo dos investidores? Especular? Enquanto isso ocorre no mercado financeiro, o mundo real da produção se acha em crise e a economia global ameaça implodir com endividamento astronômico. A China, através da possibilidade de organizar a produção com custos menores para exportação, forjou um mecanismo de fazer dólares constituindo elevada reserva, enquanto o Brasil e outros aumentaram as dívidas.
Agora a China busca o refinamento de sua economia e tecnologia, substituindo importações, focada na exportação, e investindo pelo mundo para consolidar riqueza real. Com sua grande expansão, o dinheiro, encarnado no dólar, e com a sua ascensão a condutor dos negócios e da vida, não está fácil compreender o que está rolando. Para os nacionalistas dos EUA, a valorização da moeda principal afeta as exportações da rival China.
Mas o que pensam os globalistas que acham desnecessárias as fronteiras territoriais e que estariam mirando o governo e moeda única? Está havendo grande disputa pelos mercados e tecnologia. No palco da disputa estão o desenvolvimento do 5G, a próxima geração de rede de internet móvel que promete acelerar ainda mais a velocidade das interações, e a consolidação da inteligência artificial, para utilização na produção e fins bélicos.
Os EUA e China poderiam resolver seu desentendimento a bem da paz e do progresso equitativo entre os povos. Os presidentes americanos acompanharam passivamente à transferência de produção e empregos. No Brasil, os governantes mantinham o dólar barato artificialmente para seduzir o eleitorado. Com o crescimento do déficit comercial e da dívida, caiu a ficha. Enquanto o Brasil tem de cobrir déficits em dólares com financiamento, a China soube planejar o acúmulo de grande reserva em dólares, administrando-a com eficiência.
Uma nova ordem mundial está em gestação, mas a administração do Estado não pode padronizar e se tornar a tutora das ações dos seres humanos. Sem liberdade, tudo tende à estagnação. Cada povo tem direito à sua autonomia e sua cultura. Só o reconhecimento e respeito às leis da Criação poderia balizar o comportamento humano de acordo com o princípio “ama o próximo como a ti mesmo” sem causar-lhe danos para satisfazer a própria cobiça.
No emaranhado de desafios do século 21, a humanidade tem de manifestar o que realmente quer da vida. A base deveria ser o anseio dos indivíduos a partir de seu íntimo, mas há muitas influências externas e ausência de visão clara sobre o real significado da vida.
(*) – Graduado pela FEA/USP, é autor dos livros: Nola – o manuscrito que abalou o mundo; 2012… e depois?; Desenvolvimento Humano; O Homem Sábio e os Jovens; e O segredo de Darwin – Uma aventura em busca da origem da vida. E-mail: ([email protected]); Twitter: @bidutra7