Marco Antônio Barbosa (*)
Tal como a teoria da evolução pressupõe que ao passar do tempo somente as espécies mais adaptadas se perpetuam, era de se esperar que ao passar das décadas poderíamos esperar o mesmo com relação à evolução do Brasil.
Porém algo ocorreu! Uma inversão de valores praticamente infestou grande parte da sociedade e o que assistimos hoje, que deveria fazer parte de um filme de ficção, se tornou parte de noticiário do nosso cotidiano e que de tão frequente já não nos indigna mais. Não é normal um país que não está em guerra registrar perto de 60 mil homicídios por ano e nada ser feito para se reduzir essa tragédia.
Não deveria ser aceitável um país com um PIB que nos coloca entre os 10 primeiros do mundo assistir parte da população sofrendo sem atendimento hospitalar. Um sistema político praticamente degradado e esgotado por escândalos de corrupção dos principais nomes e partidos. Não é aceitável termos uma carga tributária entre as mais altas do mundo e mesmo assim saber que grande parte desse recurso é desviado pela corrupção que se tornou endêmica entre o sistema de negócio entre os órgãos públicos e as empresas privadas, e a outra parte são muito mal gerida pelos órgãos públicos.
É revoltante vermos as mazelas do custo Brasil sendo noticiadas todas as noites e praticamente nada ser feito para se corrigir ou mudar essa situação. É difícil aceitar que apesar de estarmos entre os países mais produtivos do mundo no agronegócio da porteira para dentro, quando os alimentos saem da porteira para fora, entre 20 e 30% são perdidos por falta de condições de infraestrutura de armazenamento e de condições mínimas nas estradas e ferrovias. Somos nós que pagamos o preço dessa perda.
Somos um país fechado ao comércio mundial e com baixa representatividade, o que não estimula a competitividade interna e externa das empresas. Essa situação é verificada pela recente pesquisa de competitividade global realizada pela escola de administração suíça IMD, onde num total de 63 países, o Brasil só está em melhor posição que a Mongólia e a Venezuela.
Essa situação é inaceitável para as carências e pelo parque fabril que temos e deveria servir de base em políticas governamentais para uma melhora contínua desse ambiente de negócios e criar um estímulo para atrair ao invés de afastar as empresas. Essa situação é conhecida há décadas e a cada novo governo onde alguma esperança se renova para evoluirmos no cenário global, há sempre uma parte da sociedade que briga para manter o “status quo” de um estilo de governar onde os privilégios são garantidos às custas do pagador de impostos.
É preciso acabar com o estigma de que o lucro das empresas faz delas e dos empresários pecadores. É da iniciativa privada que vem a geração de impostos, a geração de empregos e a riqueza do país. Ao governo deveria caber a regulação do ambiente de negócios e prover à população o que se espera de uma administração pública como saúde, segurança e educação para os mais necessitados.
Se quisermos deixar um país melhor para nossos filhos e netos caberá a nós mudarmos o modo como vemos os negócios e a política no Brasil e isso exigirá pensarmos no bem comum ao invés do bem individual, especialmente aqueles abreviados por caminhos tortuosos. Uma nova mentalidade de realidade global deverá fazer parte da nossa realidade.
Temos um longo caminho pela frente.
(*) – É especialista em segurança e diretor da Came do Brasil. Possui mestrado em administração de empresas, MBA em finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e negócios (www.came-brasil.com).