João Alfredo Lopes Nyegray (*)
Já tem algum tempo que as duas maiores economias do mundo estão em rota de colisão.
Estados Unidos e China vêm travando uma batalha comercial que remonta ao governo Donald Trump. De um lado, os EUA desejam reduzir a dependência de suas empresas da manufatura na China. De outro, chineses buscam continuar abastecendo o mundo com produtos variados, trazendo até si boa parte das cadeias produtivas globais.
De forma geral, a China começa a ser buscada por empresas e organizações na década de 1980. Transferir a produção para o país asiático se tornou uma estratégia de redução de custos relevante para grande parte das empresas multinacionais. Além dos esforços de Trump, para trazer novamente aos Estados Unidos empresas que haviam migrado para a Ásia, veio a covid-19.
Como forma de conter o vírus, chineses vem implementando uma política de covid zero bastante chocante, causando uma intensa disrupção nas cadeias globais de valor. Empresas de variados setores em todo o mundo ficaram sem peças, produtos e insumos, uma vez que grandes cidades chinesas estavam simplesmente trancadas em restrições muito semelhantes àquelas vistas em filmes de ficção científica.
Essa dependência toda que o mundo tem da China acendeu um alerta em grandes potências: está na hora de escolher outros destinos. Foi sabendo disso que grandes empresas como Apple e Intel já moveram parte de suas produções para a Índia. Aqui entra o Brasil e as oportunidades que desperdiçamos: na segunda-feira, 5 de dezembro, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos.
Na pauta da conversa estava justamente aquilo que precisamos para destravar o crescimento e a geração de empregos no Brasil: trazer empresas globais da China para cá. Se isso de fato ocorresse, teríamos não apenas mais empregos e mais crescimento, mas um importante incremento na industrialização – que vem caindo nas últimas décadas. Essa possibilidade, no entanto, não se concretizará.
O ambiente de negócios burocrático, desconexo e altamente custoso do Brasil afasta essas empresas e investimentos tão necessários ao crescimento e emprego do país. Apenas em termos aduaneiros, são mais de 3.600 normas distintas que tornam operações de embarque e desembarque de mercadorias um esforço muito superior ao que ocorre numa boa parte dos países em desenvolvimento.
Triste é que esse cenário adverso vem se desenhando há décadas, e não houve governo – independentemente da ideologia ou posicionamento – que fosse capaz de simplificar e abrir o país. Ao que parece, a incompetência é ambidestra.
(*) – É doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais; advogado, graduado em Relações Internacionais e coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo – @janyegray.