Antonio Ticianeli (*)
O outono está chegando na Europa e diferente da fábula de Esopo, desta vez a formiga está brigada com a cigarra.
Essa talvez seja a melhor ilustração para um futuro próximo no continente europeu.
Com a guerra na Ucrânia aparentemente longe de um desfecho próximo e com as sanções impostas às exportações russas pela comunidade Europeia às vésperas da chegada do outono no hemisfério norte, devem prover elementos para deixar essa fábula sem um final feliz, ao menos para os consumidores do petróleo e seus derivados.
A Europa é o principal consumidor do petróleo russo e a expectativa é que os consumos deste commodity devem se elevar. Com o bloqueio que fora sancionado no começo deste mês reduzindo em 90% as importações vindas da Rússia, haverá um impacto diretamente nos preços do barril de petróleo, podendo apresentar aumentos drásticos.
Aliás, como já pôde ser visto desde o início do ano, em que o barril Brent era cotado a 91.18 USD em janeiro e cotado a 104.00 USD agora no mês de julho, representando uma alta aproximada de 14%. Os mercados futuros já consideram que a chance do cessar fogo na Ucrânia é muito pequena e que o aumento dos valores do barril Brent é uma realidade que já acena ao horizonte – e facilmente atingirá o valor de 140.00 USD.
Isso impacta o Brasil diretamente, já que as políticas de preços do petróleo e derivados no país são baseadas no PPI (Preços de Paridade de Importação), ou seja, se os preços no mercado internacional sofrem aumento, naturalmente os preços internos serão regulados.
E somado a isso temos o fato de que 20% do consumo interno vem de importações, que aliás são necessárias dada a baixa capacidade de refino do país, o que também ajuda a pressionar esses potenciais aumentos.
Contudo, o cenário futuro demanda uma preocupação adicional dada ao fato que, com a redução das importações do petróleo russo e com o aumento da demanda de consumo no outono e posteriormente no inverno europeu, naturalmente esse mercado recorrerá às fontes conhecidas e alternativas ao petróleo russo.
Isso pode conduzir a uma eventual escassez do produto nos mercados, fazendo com que o Brasil use suas reservas de petróleo, o que atualmente representa em um estoque regulador de 50 dias, o que em condições normais seria o suficiente.
O que fica claro com todo esse cenário que se apresenta para o mercado internacional e para o mercado brasileiro, é que o Brasil precisa começar a investir além do aumento das suas reservas de petróleo, mas na sua capacidade de refino.
Em linhas gerais, teremos que esperar para ver, mas que estejamos de bolsos preparados.
(*) – É Engenheiro Químico e Especialista em Regulação e Mercado de Petróleo de Derivados.