Anderson Leal (*)
Dois anos de medo, angústia e incerteza. Desde que a pandemia começou, os dias foram extremamente desafiadores.
Acompanhar o aprendizado e as muitas tentativas de manter a educação de crianças e adolescentes, nesse cenário, foi motivo de aflição para muitas famílias. Nossos jovens passaram do ensino presencial para o remoto sem que houvesse tempo hábil para adaptação. Segundo dados do Fundo de Emergência Internacional da Unicef, uma entre cada sete crianças e adolescentes de 10 a 19 anos vivem atualmente com algum transtorno mental.
E um em cada cinco adolescentes e jovens de 15 a 24 anos se sente deprimido ou com pouco interesse em fazer as coisas. A pressão causada pelo isolamento social teve impacto não apenas na vida escolar, mas também na saúde emocional desses grupos. Os dados são alarmantes e pedem de nós, adultos, um posicionamento ativo, que possa ajudar as nossas crianças e adolescentes a terem o menor prejuízo possível diante desse contexto avassalador.
Incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a educação socioemocional é um eixo que, segundo o documento, deve perpassar todos os âmbitos da escola. Ela é, hoje, uma das ferramentas fundamentais nessa tarefa. Acolher, embalar e permitir que nossos jovens cresçam emocionalmente, mesmo em meio a condições desfavoráveis, é papel de todos nós. Mas como nós, também atingidos pelas consequências dos últimos dois anos, podemos ajudá-los a enfrentar essas adversidades dentro de casa?
Há, no fundo, duas habilidades muito importantes para um amadurecimento saudável no pós-pandemia: o autoconhecimento e a empatia. O primeiro precisa ser, antes, exercitado pelos pais. Essa habilidade exige amadurecimento constante porque somos referência para os filhos. Precisamos ajudá-los a reconhecer as próprias emoções e aprender a lidar com cada uma delas. É nosso papel orientá-los a ter um posicionamento ativo quanto às próprias percepções e ao que fazer com elas neste pós-pandemia.
A segunda habilidade é a empatia. Nossos jovens precisam, mais que nunca, conviver com o outro, com o diferente. Eles precisam aprender a respeitar essas diferenças e ser generosos. A convivência é crucial para praticar esses sentimentos e isso ajuda na saúde emocional.
Na educação dos filhos, a resiliência não é possível quando falamos de pais superprotetores, pois as crianças e adolescentes precisam passar por momentos adversos e de dificuldade para crescer nessa frente. É como se fosse um músculo que precisa ser exercitado. Precisamos oportunizar aos filhos momentos e situações em que possam treinar a resiliência.
Momentos como o de uma pandemia são propícios para esse fortalecimento. É um crescimento adaptar-se a um novo cenário, com aulas em um formato diferente do habitual, com as relações passando a ser majoritariamente virtuais e o formato dos relacionamentos mudando. Esse momento permitiu ampliar a resiliência em quem já a possuía e exigiu força dos que não estavam acostumados a ela.
Não importam as dificuldades ou os desafios, não podemos colocar nossos filhos dentro de uma bolha. De acordo com o pesquisador europeu Kim-Cohen, “certa medida de estresse e desarmonia é importante para criar oportunidades para uma proteção eficiente”. Ou seja, durante um conflito, os níveis de estresse aumentam e, quando se normalizam, a criança cria resiliência.
No universo micro, particular e familiar, a capacidade de permitir que os pequenos aprendam por si mesmos a enfrentar turbulências é admirável.E, ali em frente, perceberemos que esse momento não fortaleceu apenas nossa resiliência, mas também nossos laços com aqueles que carregam muito de nós.
A pandemia nos trouxe novas formas de apoiar uns aos outros, ajudando nossos filhos a conhecerem-se e compreenderem-se mais, a serem mais empáticos e, principalmente, a desenvolverem o “músculo” da resiliência. Ali em frente, teremos pessoas mais humanas e felizes e, por conseguinte, um mundo melhor para todos.
(*) – É consultor pedagógico da Conquista Solução Educacional.