Ronaldo de Oliveira Batista (*)
A digitalização possibilita meios de manutenção e preservação de acervos.
O recente incêndio no Museu da Língua Portuguesa, no final de 2015, suscitou uma discussão relevante e direcionadora de ações em relação a acervos e suas formas de conservação pelos museus, tendo em vista que um total desastre não ocorreu lá porque seu acervo estava digitalizado, possibilitando, assim, a existência e continuidade da instituição mesmo após a tragédia.
Essas discussões não deixaram de reforçar, paralelamente, um posicionamento mais imediato que cobra do poder público e de instituições privadas justificativas a respeito do regulamento de funcionamento de espaços de exposição e do controle adequado das condições de manutenção de arquivos e acervos, para sua preservação e integridade.
Diante desses fatos, uma primeira reflexão se dá sobre acervos digitais e seu papel na sociedade contemporânea, com suas novas tecnologias de informação e comunicação. Sem dúvida, a digitalização possibilita meios de manutenção e preservação de acervos, desde que obedecidos regulamentos que autorizam o funcionamento de museus e fundações, que se estendem para além dos espaços físicos, sempre fragilizados em suas condições estruturais, sujeitas a deteriorações pelo uso e passar dos anos.
Ao lado desse aspecto, a tecnologia, em outra de suas funções, proporciona a existência de acervos online cada vez mais comuns, popularizando o acesso a todo um patrimônio cultural. Há muitos ganhos nessa dinâmica, pois a difusão da cultura e informação se torna mais ampla e a segurança no armazenamento de dados é, sem dúvida, maior.
Por conta dessas vantagens é que mais museus, fundações e instituições se envolvem em projetos de digitalização de acervo e bancos de dados, tendo em vista tratamentos específicos de catalogação, organização, digitalização e disponibilização de material de diferentes tipos e formatos, como textos, imagens, arquivos audiovisuais, quadros, esculturas, instalações, fotografias, músicas, móveis, instrumentos.
Desse modo, tecnologias de preservação, manutenção, informação e comunicação, consequência do avanço técnico e tecnológico, possibilitam que a divulgação do acervo ocorra em formatos distintos daqueles tradicionais, que preservam suas funções já consagradas, mas passam a dialogar com diferentes perspectivas de apresentação de acervos, possibilitando, inclusive, maior interação dos indivíduos com obras de diferentes categorias.
Desse modo, cumpre-se a função principal de um museu (e de instituições com funções afins) como produtor do conhecimento, no sentido de que ao organizar acervos e promover sua difusão permite, ou deveria permitir (e nisso a tecnologia só auxilia), a apropriação cultural, social e histórica daquilo que visitantes de um museu, por exemplo, veem, tocam, ouvem.
Tecnologia a serviço, portanto, de uma vivência de fato consistente, pois ancorada na apreensão não só visual e distante de uma obra ou acervo, mas igualmente em diferentes dimensões que são possíveis de tornar próximos artistas, receptores e obras, democratizando, nesse propósito, o próprio museu e atingindo, como boa consequência, públicos diversos que muitas vezes se consideram distantes de um museu visto em seu formato tradicional.
(*) – É professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie.