Daniella Doyle (*)
A igualdade de gênero no mercado de trabalho tem se mostrado ainda mais fundamental nos últimos anos.
A pandemia evidenciou — o que convenhamos já era óbvio — que foram as mulheres que mais acumularam tarefas com a reconfiguração dos modelos de trabalho, tendo que lidar com os cuidados em casa, com filhos, idosos e outros parentes, assim como grande parte dos afazeres domésticos e, claro, ser uma exímia profissional.
Além da disparidade salarial entre os gêneros, da falta de planos de carreira para o sexo feminino e do acúmulo de funções, também nos deparamos com os desafios da maternidade na vida e na carreira das mulheres. A jornada dupla de mãe e profissional é algo que permeia e aflige o imaginário de muitas colegas. Por vezes, somos colocadas em posição de escolher entre um e outro, uma vez que para muitos não há possibilidade de desempenhar as duas funções de forma plenamente satisfatória.
E o resultado desse cenário? Apenas 54,6% das mães de 25 a 49 anos que têm crianças de até três anos em casa estão empregadas, segundo o estudo Estatísticas de Gênero, divulgado pelo IBGE no ano passado. Outro levantamento, este da Catho, destaca que 30% das mulheres deixam o mercado de trabalho para cuidar dos filhos, enquanto que entre os homens, essa proporção é quatro vezes menor, de 7%.
Por mais que a sociedade tenha evoluído para garantir que mulheres tivessem mais direitos, como a licença-maternidade remunerada, o proibimento da demissão durante o período gestacional, assistência médica e sanitária às gestantes, fica claro que ainda não é o suficiente. Sem contar que alguns desses avanços, muitas vezes, não funcionam na prática, já que pesquisa realizada pela FGV aponta que 50% das trabalhadoras que tiram licença-maternidade são demitidas em aproximadamente 24 meses.
As empresas têm um papel fundamental para nos ajudar a mudar este cenário. Como? Alçando mulheres com esse perfil a cargos de liderança, e digo isso por experiência própria. Até a minha chegada na eNotas em 2020, não havia mulheres em cargos de liderança e menos ainda mulheres com filhos. É difícil para qualquer gestão entender como lidar com esse perfil de colaborador se não há nenhum em seu time.
Por mais que gestores tranquilizem as funcionárias que vão lidar com a maternidade, algumas mães ainda se sentem pressionadas e, a meu ver, isso se dá por uma questão cultural, pois nesses casos mesmo que as pessoas reforcem nossas capacidades, nos cobramos não apenas no trabalho, mas também em casa. Tudo tem de ser impecável, filhos, casa, trabalho, todos perfeitos.
Assim que assumi à frente do departamento de Marketing, fiz questão de levantar essa bandeira e mostrar o quanto perdemos ao deixar mulheres de fora do nosso radar, em especial às que lidam com a maternidade, que traz responsabilidades e competências que podem e devem ser melhor aproveitadas pelas empresas.
Estar em um cargo de liderança implica em muitas questões, entre elas garantir que o ambiente de trabalho seja diverso, justo e receptivo para todos os colaboradores — Empatia é a palavra. E, para colocar-se no lugar do outro, compreender sua realidade, dificuldades e propor melhorias, precisamos estar minimamente por dentro dessa realidade. Hoje, entre nossas colaboradoras, temos 11 mães e três gestantes, e ainda há um longo caminho a percorrer.
Contudo, acredito que estamos no percurso certo, já que passamos a atrair e reter talentos com esse perfil. Para garantir a permanência dessas colaboradoras, algumas ações foram essenciais, como oferecer auxílio creche, licença-maternidade estendida e flexibilidade no trabalho, sejam opções de trabalho remoto ou flexibilidade de horário. Esses são fatores que fizeram e fazem a diferença para nós e que, sem sombra de dúvidas, serão bem recebidos na sua empresa.
(*) – Graduada em Jornalismo, Publicidade e Propaganda pela PUC-MG, é head de Marketing da eNotas, legaltech que oferece soluções para automatização da emissão de notas fiscais eletrônicas (https://enotas.com.br/).