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Mulheres na engenharia, sim. Ou onde elas quiserem

em Artigos
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Vinicius Marchese (*)

Há muito se fala sobre a necessidade de romper barreiras impostas pela desigualdade de gênero, presente em todos os setores da sociedade.

Apesar de ser a grande maioria da população, as mulheres ainda estão sub-representadas na política, no mercado de trabalho, na docência das universidades, no judiciário e, como não poderia ser diferente, também nas áreas da Engenharia, Agronomia e Geociências. Elas representam apenas 15% do total de profissionais registrados no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).

Corrigir essas distorções e combater o machismo e o sexismo é dever de toda a sociedade. Diante dos ataques às profissionais envolvidas em uma grande obra de infraestrutura da cidade de São Paulo, acusadas em vídeo veiculado pelas redes sociais de serem as responsáveis por um acidente, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP) saiu em defesa das mulheres para que ações como essa sejam repudiadas veementemente.

A qualidade técnica não é avaliada por sexo, gênero, raça ou classe social. O que diferencia um bom profissional de um ruim são suas aptidões, habilidades para desenvolver soluções e competências para lidar com os desafios impostos pela carreira e pelo mercado. Não há espaço, em pleno ano de 2022, para condutas desse tipo. O Crea-SP não compactuará com comportamentos preconceituosos e discriminatórios contra quem quer que seja.

É preciso entender a importância – e a urgência – de mulheres ocuparem espaços que, até então, eram considerados majoritariamente masculinos. Caso da área tecnológica, que historicamente é associada aos homens. Se antes as mulheres não eram associadas a essas profissões, o último censo da Educação Superior do Inep aponta que 37,3% dos formandos em cursos de graduação de engenharia, produção e construção são do sexo feminino.

O compromisso assumido pelo Conselho tem produzido resultados importantes para fomentar a inclusão e a diversidade de gênero. Somos signatários da Agenda 2030 da ONU e fortalecemos o nosso propósito em prol da equidade de gênero. Nossa missão é aumentar a participação das mulheres das Engenharias, Agronomia e Geociências, no Sistema Confea/Crea, nas associações de classe e em suas profissões, mostrando que elas devem atuar em todas essas áreas e nos mais diversos cargos.

Perante os obstáculos que elas enfrentam em suas profissões, como jornada dupla, preconceito e assédio, estamos nos mobilizando por um futuro mais justo e para promover e alcançar a equidade de gênero. Por isso, instituímos o Comitê Gestor do Programa Mulher, uma iniciativa criada pelo Confea, e que tem como principal meta cumprir com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de número 5 da Agenda 2030, que versa, justamente, sobre a igualdade de gênero e o empoderamento feminino.

Foi a partir deste movimento que produzimos a ‘Cartilha do Programa Mulher do Crea-SP’, que traz um panorama sobre a realidade atual das mulheres no mercado de trabalho e os desafios para superar essa condição de desigualdade. Promovemos, ainda, um primeiro encontro do Programa Mulher em São Paulo. Mais de 400 mulheres da área tecnológica puderam compartilhar de suas experiências e trajetórias, além de ouvir boas histórias de diferentes perfis de mulheres que se destacam em diferentes ambientes.

É o momento de discutirmos sobre como — e quanto – o machismo impacta diretamente a vida de milhões de mulheres, em todas as classes sociais. Afinal, a previsão do Relatório de Desigualdade Econômica e Gênero de 2021, do Fórum Econômico Social, é de que levaremos 135,6 anos para o mundo chegar a uma paridade de gênero.

Ainda que o caminho seja longo, não é possível retroceder. Sabemos que há muito a ser enfrentado, mas, uma certeza segue inabalável: o debate não pode acontecer a partir de uma ótica machista e excludente.

(*) – Engenheiro de Telecomunicações, é presidente do Crea-SP @viniciusmarchese.