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Mulher: alimentação e trabalho

em Artigos
sexta-feira, 07 de agosto de 2015

Solange Lisboa (*)

A relevância do tema amamentação é indiscutível. Nas últimas décadas várias organizações e instituições tem se empenhado no resgate e fortalecimento do aleitamento materno.

O motivo? Milhares de crianças mortas por infecções respiratórias, intestinais e desnutrição, principalmente nos primeiros anos de vida. A comunidade científica teve de se render aos apelos da natureza: leite humano para o bebê! Neste ano, a Aliança Mundial para Ação em Aleitamento Materno, responsável pela Semana Mundial da Amamentação desde 1992 retomou o tema da mulher trabalhadora: Amamentação e trabalho – Para dar certo o compromisso é de todos.
Este evento oficial foi celebrado de 1 a 7 de agosto e apoiado por 120 países. O objetivo foi o de reunir uma ação global de apoio às mulheres para conciliarem a amamentação e o trabalho, considerando desde as atividades com carteira assinada, por conta própria, temporárias e as tarefas e os cuidados em casa que não são remunerados.

Informações sobre a importância do leite materno e as vantagens para a mãe e o bebê são amplamente divulgadas: fortalece o vínculo entre mãe e filho; a criança fica mais protegida contra diarreia, infecções respiratórias; tem menos risco de desenvolver ao longo da vida alergias, hipertensão, diabetes e obesidade; favorece o desenvolvimento da cavidade bucal prevenindo problemas de fala, respiração e mastigação; tem efeito positivo sobre a inteligência da criança; é o alimento que melhor supre as necessidades nutritivas do bebê, promovendo crescimento e desenvolvimento saudáveis. A mulher que amamenta fica mais protegida contra câncer de mama e de ovário e diabetes.

No entanto, observa-se na população brasileira que a duração média da amamentação é de 10 meses e do aleitamento materno exclusivo, 23 dias, muito aquém do preconizado pela Organização Mundial de Saúde, Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatria: que as crianças sejam amamentadas até os 2 anos de idade ou mais e que recebam somente leite materno até os 6 meses.

Observando uma mulher amamentando o filho no peito, tem-se a impressão de naturalidade, simplicidade e de perfeita harmonia entre os dois seres. Entretanto, a mulher que amamenta, a família e o pediatra sabem dos desafios e percalços transpostos para o estabelecimento e manutenção do aleitamento materno.

Infelizmente em pouco tempo a amamentação começa a ser ameaçada por alguns sentimentos que afligem a mulher: angústia pela proximidade do retorno ao trabalho e a separação do seu filho, a ansiedade quanto a introdução de novos alimentos e dúvidas quanto a possibilidade de coletar e armazenar o leite para ser oferecido ao bebê durante sua ausência.

Há mais de 30 anos exercendo a pediatria, tenho escutado as dúvidas, as dificuldades e as preocupações da mulher que amamenta e notado, por vezes, o cansaço pelo acúmulo de afazeres. Mas, através de consultas periódicas, da observação do ato de amamentar, do apoio da família e da correção da técnica de amamentação é possível substituir a dor inicial pelo prazer de poder oferecer ao bebê o nutriente de maior valor e observar seu desenvolvimento saudável.

Apesar de incipientes, algumas iniciativas foram implementadas como a ampliação da Licença Maternidade remunerada de 120 para 180 dias, o direito a pausas para amamentar durante a jornada de trabalho e a Empresa Cidadã que contempla também criação de creches e implantação de sala de apoio à amamentação.

Considerando que a participação da mulher brasileira na economia da família e, por que não dizer do país, tem sido significativa e que nossa esperança está depositada nas nossas crianças, é tempo de apoiar o trabalho da mulher e proporcionar condições de trabalho adequadas para que sejam garantidos os direitos da mulher amamentar e do bebê ser amamentado.

(*) – É pediatra.