Gilson Alberto Novaes (*)
Trabalhando desde menino, tive oportunidade de aprender muito nas empresas pelas quais passei. Professor há cinquenta anos, sempre usei aquilo que aprendi no mundo corporativo em salas de aula.
Uma das grandes lições foi a tal “Mensagem a Garcia”. Muita gente conhece, mas quero abordá-la, pois esses dias mesmo tive de usá-la num caso específico, no qual a lição caiu bem. Trata-se de um trabalho literário com uma tiragem gigantesca, que foi publicado em 1899 na revista americana “Philistine”, no estado de Nova York. Sua história ganhou rapidamente o mundo.
Quando esse texto estava sendo distribuído nos Estados Unidos, um empresário russo, diretor das Estradas de Ferro Russas, que estava naquele país, tomou conhecimento do seu conteúdo e logo mandou traduzir para sua língua e distribuiu aos seus empregados. Durante a guerra entre a Rússia e o Japão, cada soldado do Czar recebia um exemplar do artigo antes de ir para a guerra. Tinham que ler!
Os japoneses tomaram conhecimento do texto e também trataram de traduzi-lo. Da Rússia para o Japão, daí para a Alemanha, França, China, Turquia… O fato ocorreu em território cubano, onde a atuação de um homem deu origem a tudo. Acontecia a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos e precisavam com urgência entrar em contato com o chefe dos insurretos, o Major-General cubano Calixto Ramón Garcia Iñiguez (1836-1898), que estava entranhado no sertão cubano, em alguma fortaleza.
Se fosse nos dias atuais, aqui no Brasil, diríamos, fazendo pilhéria, que Garcia estava em “LINS”, “lugar inserto e não sabido”. Brincadeira à parte, os americanos tinham de localizar o tal Garcia. Era impossível contatá-lo por correio ou telégrafo. Problema sério para o presidente americano, William Mac Kinley (1897-1901).
Foi aí então que alguém lembrou ao presidente: “Há um homem chamado Rowan e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser o Rowan”. Tratava-se do coronel Andrew Summers Rowan (1857-1943). Trouxeram Rowan à presença do presidente que imediatamente lhe confiou uma carta para ser entregue a Garcia.
O coronel Rowan pegou a carta, colocou-a num envelope impermeável, amarrou-a sobre o peito, saiu e após quatro dias, saltou de um barco, altas horas da noite, no litoral de Cuba. Daí, entrou sertão afora. Passadas três semanas apareceu do outro lado da ilha e entregou a “Mensagem a Garcia”.
Já imaginaram se Rowan começasse a fazer perguntas assim ao presidente: “Onde está esse tal de Garcia? “; “Por que eu?”; “Não tem ninguém aqui melhor do que eu para essa tarefa?”; “Quanto vou receber por isso?”; Eu sou um coronel, não um carteiro”… Ou então, fosse daqueles que “fazem um meio campo” que, em linguagem futebolística indica quem passa a tarefa para outro, desfazendo-se logo do problema.
Ou ainda dissesse ao Presidente “fique sossegado, “xacumigo”, não enfrentasse os desafios e desistisse na primeira dificuldade. A postura do coronel Rowan foi notável e ficou para a história.
Hoje, quando se quer dar uma tarefa para alguém e espera-se que possa cumpri-la fielmente, indo até o fim, dizemos que “isto é uma Mensagem a Garcia”. Vivemos atualmente num mundo onde a falta de disposição em concentrar-se numa tarefa e executá-la até o fim é atributo de poucos.
A mensagem, de quase 120 anos, ainda é viva e a lição é oportuna: precisamos de mais “Rowans” na empresa, na escola, em casa, na sociedade.
(*) – É Professor de Direito Eleitoral no Curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie/Campinas, onde é Diretor do Centro de Ciências e Tecnologia.