Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
A economia ainda patina sem avançar. Foi uma zoeira geral a fase de formação de bolhas, será que era só o efeito dos preços elevados das commodities?
O fluxo do dinheiro e do crédito se movimentando com ondas vigorosas, para logo atingir o auge da crise financeira, esvaziando e secando tudo. Derrubada nos estertores logo alcançados, a economia ainda não conseguiu se levantar. A estagnação que aconteceu com o setor dos imóveis também está acontecendo com o segmento automotivo. A mania de grandeza, a forma irresponsável de conduzir o orçamento público e os empreendimentos privados explicam alguma coisa, mas foi só isso?
Bilhões estão sendo postos no mercado pelo Banco Central, mas a reação da economia tem sido frágil, pois há desemprego, insegurança e precarização. Como acertar o passo, não com a volta da economia voluptuosa, mas daquela que pelo menos possibilite o atendimento das necessidades essenciais?
Enquanto os países desenvolvidos emitem muito dinheiro do nada, os emergentes aumentam as despesas com juros. Parece experimento de laboratório. Não deixa de ser uma elevada dose de interferência na liberdade dos agentes do mercado; no entanto, deveriam ser apuradas as causas da recessão para aplicar o remédio correto. O relaxamento monetário seria um estimulante, mas conseguiria restabelecer o fluxo de produção, empregos e consumo de forma estável?
O problema do câmbio é saber se ele está flutuando de forma livre, pois há muitos interesses em jogo de países e especuladores que têm mais força do que os governos para controlar. Na América Latina, faltaram estadistas com visão para sair do estágio de economia extrativa e agroexportadora de matérias primas. Muito do que é exportado volta como produto industrializado. A educação é muito precária. No século 20, muitas coisas poderiam ter sido melhor conduzidas.
De bom podemos considerar que houve a superação do comunismo cerceador da liberdade, mas no mundo ainda não há paz e a liberdade não está sendo bem empregada para o aprimoramento e progresso. A natureza tudo nos oferece, mas homens cobiçosos foram se postando à frente, segurando tudo para si com as duas mãos, pouco se importando se com isso espalhassem miséria e desequilíbrio pelo mundo, sem perceber os fatores que levaram os humanos a deixarem de buscar seriamente a melhora das condições gerais de vida no planeta, sendo cada vez mais levados unilateralmente pelas influências criadas pelo dinheiro.
Na verdade não é o poder do capital que formata o mundo. São os homens que, ao adquirem poder com o dinheiro, querem impor o seu desejo aos outros. Melhor exemplo disso é o da economia escravocrata do passado, que produziu muita riqueza, mas nada deixou para os que trabalhavam. No entanto, o lucro é legítimo; errada é a exploração do homem pelo homem.
O resultado foi o crescente apego ao dinheiro, pois ele, no mundo material, concede poder ao seu possuidor.
Quanto mais, mais poder, gerando um irracional desejo de acumular sem fim por todos os meios, lícitos ou ilícitos. O problema não está no capitalismo, mas no homem que perdeu a visão do significado maior da vida, dedicando seu tempo prioritariamente ou exclusivamente ao acúmulo de riqueza, em vez de assinalar a sua rápida passagem pela Terra com atividades beneficiadoras. O que fazer para os jovens entenderem que somos seres humanos e que devemos procurar o significado da vida? Temos de pensar nisso; como despertar os jovens para que se movimentem.
Não só a democracia, mas tudo depende da educação e bom preparo para a vida. Estamos nos encaminhando para a insustentabilidade do planeta. Os exemplos dados pelas classes política e empresarial são desastrosos. Uma geração inconformada começa a jogar tomate e chutar o pau da barraca. Os diálogos construtivos e amistosos devem ser restabelecidos urgentemente com foco na edificação de uma civilização humana e decente.
(*) – Articulista colaborador de jornais, realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites (www.library.com.br) e (www.vidaeaprendizado.com.br). Autor de: Nola – o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; 2012…e depois?; Desenvolvimento Humano; O Homem Sábio e os Jovens, entre outros ([email protected]).