Levi Ceregato (*)
O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff no Senado, na sessão de ontem (29), na qual apresentou sua defesa, não foi convincente quanto às pedaladas fiscais, prática muito danosa e atentatória às leis, justificando constitucionalmente o impeachment.
Seu afastamento também atende a um anseio nacional, motivado pela indignação da sociedade ante escândalos de corrupção, desmandos e incompetência. Concluído o processo, o grande desafio será recolocar o Brasil nos rumos do desenvolvimento. Nesse sentido, a recuperação da economia, sob um novo governo, é a prioridade mais urgente, pois a crise já provocou danos muito graves. A Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional), juntamente com as regionais e entidades do setor, posicionou-se de modo firme e público em prol do impeachment da presidente.
O iminente impedimento, cujo rito ampara-se na legalidade, representa uma vitória democrática dos brasileiros. Contudo, o processo não pode terminar com a posse definitiva do presidente Michel Temer. É necessário que a troca de governo também represente, em termos práticos, uma nova atitude do Estado perante a população e as grandes prioridades nacionais.
Além do horizonte que se vislumbrou com o impeachment há uma dura realidade a ser enfrentada. É preciso recuperar a economia e recolocá-la num fluxo duradouro e sustentável de expansão, gerando empregos, estimulando investimentos produtivos e revitalizando as exportações, com uma estratégia consistente de comércio exterior e não apenas como consequência da valorização do dólar.
As expectativas dos brasileiros, porém, não se esgotam na economia. Afinal, para que seja sustentável e não continue mergulhando em crises intermitentes, são necessárias as tão reclamadas reformas tributária, trabalhista e previdenciária.
Sua realização é essencial para desonerar a produção e conferir mais saúde fiscal ao Estado. Esperamos, ainda, que tenhamos mais estabilidade política, com a devida independência dos Três Poderes, mas com sinergia entre eles no tocante à defesa dos grandes interesses nacionais.
O brasileiro tem uma capacidade imensa de renovar a esperança. Todas as vezes em que há uma grande transformação política, conseguimos debelar o desânimo e voltamos a acreditar em nossa possibilidade de ser uma nação próspera, desenvolvida e justa.
Foi assim nas “Diretas Já”, em 1984, seguidas da posse, no ano seguinte, do primeiro presidente da República civil desde 1964, e também em 1992, quando ocorreu o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
Novamente, estamos vivenciando um processo de transformação política. É preciso aprender com os erros do passado para que, desta vez, a mudança realmente se reverta em avanços para o País e nosso povo. O Brasil tem tudo para crescer, desenvolver-se e se converter em economia de renda alta.
É isso que esperamos a partir do novo governo! Apesar de sermos imbatíveis em nossa capacidade de reciclar a esperança, temos arcado com sérias consequências por não sabermos aproveitar as oportunidades da história.
(*) – É presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional) e do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (Sindigraf-SP).