Maurício Prado Silva (*)
Linha de frente nas demandas urgentes de digitalização da nossa economia, o setor de TI segue expandindo operações e contratando profissionais, na contramão da retração instaurada no mercado por conta da crise.
Mas se observarmos o baixo índice de ocupação de mulheres (20%, de acordo com pesquisa do IBGE de 2018), situação ainda mais preocupante quando olhamos para cargos de gestão, em que elas não chegam a ocupar nem mesmo 5% das vagas, podemos inferir que ainda há muito o que fazer para que esse futuro promissor esteja acessível para todo mundo.
Ao longo da minha jornada de mais de 25 anos de liderança em TI, senti na pele como a falta de diversidade molda as trajetórias dos profissionais no setor, chegando a afetar até mesmo a liderança de mulheres na área, restringindo suas chances de crescimento. É preciso romper com esse padrão.
Sempre acreditei que um líder deve cuidar bem dos seus colaboradores e, falando sobre diversidade, penso que o cuidado se aplica a partir do momento em que as pessoas se sentem seguras para expressarem sua identidade no trabalho, o que só se concretiza quando há um ambiente equânime, em que as oportunidades de ascensão não sejam reservadas a um único perfil, mas criadas para promover impacto positivo na empresa e na sociedade.
Se pensarmos que uma das principais barreiras da igualdade de gênero é a financeira, creio que nós, líderes de tecnologia, um dos setores que melhor remunera seus funcionários atualmente, podemos dar o exemplo ao mercado ao incentivarmos contratações de mulheres. Há um ano, quando assumi o desafio de implementar a operação LATAM da Pegasystems, uma empresa que valoriza a diversidade em todos os níveis, não tinha ideia do impacto da Covid-19 sobre as nossas vidas, aumentando ainda mais o contraste da desigualdade social no país.
Minha primeira ação como CEO da companhia foi estruturar uma equipe sênior e equânime, incluindo os cargos de gestão, aos quais colaboradoras mulheres respondem por 50%. A pandemia é um aprendizado para os líderes sobre gerenciamento de equipes, mas creio que o comprometimento da nossa empresa com a diversidade tem trazido uma leveza para o período, pois estimulou a empatia em nossos colaboradores.
Um exemplo muito interessante sobre recrutamento e seleção à distância foi a contratação de duas gestoras grávidas. Me empenhei para assegurar-lhes um ambiente propício para que elas concluíssem a gestação com tranquilidade, ao mesmo tempo em que avançavam na carreira. Como pai de filhas mulheres, apenas coloquei em prática o que eu gostaria de ver acontecendo com elas quando chegar o momento, abraçarem cargos de gestão sem abrirem mão dos seus objetivos pessoais, assim como as profissionais da Pegasystems hoje.
As novas gerações chamam esse movimento de ‘furar a bolha pelo lado de dentro’. Para mim, é uma oportunidade de me reinventar e, a partir do meu lugar de fala, contribuir para que a prosperidade do setor de tecnologia contemple também o amplo espectro da diversidade em sua equação de sucesso, alinhada com a proposta do Dia Internacional da Mulher.
(*) – Graduado em Administração de Empresas, bacharel em Ciências da Informação e especialista em e-commerce e tecnologia pela University of California Berkeley, é diretor-geral para América Latina da Pegasystems (www.pega.com/pt-br).