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Hora de trocar de mãos

em Artigos
quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Paulo Guilherme Coimbra (*)

Hoje, a indústria de petróleo e gás no Brasil vive um momento de reestruturação e de mudanças críticas.

Do lado do cenário externo, uma queda significativa do preço do Brent mexeu com a rentabilidade de várias empresas de exploração e produção e, de quebra, fez com que elas adiassem ou otimizassem novos investimentos em função da menor geração de caixa. Já aqui no Brasil, o cenário também não é muito otimista nos últimos meses e alguns fatores contribuíram para isso.

O primeiro deles diz respeito à incerteza política que pode levar à alteração nas regras já estabelecidas de conteúdo local e do modelo de partilha, principalmente, por causa da dificuldade que algumas empresas estão tendo em atender às exigências impostas pelo governo. Segundo, o financiamento disponível para a indústria também teve uma grande redução já que a principal fonte de recursos, o BNDES, já não empresta mais dinheiro tão facilmente como antes. Soma-se a isso, o risco iminente do Brasil perder o grau de investimento.

Não podemos deixar de citar que o contexto da Operação Lava Jato tem impacto direto no setor por causa do envolvimento da maior empresa de petróleo e gás do país. Tudo isso vem como um efeito cascata: a Petrobras que contratava grandes estaleiros como Odebrecht, OTC e Camargo Correa que contratava a cadeia de fornecedores, essa uma das mais afetadas pela reestruturação.

Se de um lado, todos esses fatores geram uma incerteza para o setor, por outro, são extremantes propícios a fusões e aquisições e ainda trazem oportunidade para investidores estrangeiros. O que temos visto é um movimento de fusões e aquisições entre empresas do setor, tornando o ambiente favorável para consolidação de empresas no setor.

Fatores como a desvalorização do real, a dificuldade das empresas em se financiar e a demanda menor deixaram-nas com valor de mercado mais baixo e, consequentemente, tornaram-nas um alvo interessante. Cenário perfeito para os estrangeiros que querem ter uma porta de entrada na indústria petrolífera brasileira e que também estão atrás de uma boa barganha.

Esse movimento vem sendo liderado pela própria Petrobras que divulgou, no dia 15 de julho, um plano agressivo de desinvestimentos no valor total de US$ 15,1 bilhões para o biênio 2015 e 2016, e que está estudando oportunidades de desinvestimentos nas áreas de gás e energia, exploração e produção de petróleo e gás e abastecimento, tanto no Brasil como no exterior e que inclui anda a oferta pública de ações da Petrobras Distribuidora (BR).

Com relação a isso, a companhia reafirmou que Diretoria Executiva aprovou a elaboração de estudos com o objetivo de analisar alternativas estratégicas para a sua subsidiaria integral BR e que dentre as possibilidades exploradas, encontram-se a atração de um sócio estratégico e a abertura de capital. Outras grandes companhias do setor, citadas na operação Lava Jato, também estão buscando investidores ativos de óleo e gás e infraestrutura.

Dessa forma, o que vimos é que a indústria está buscando algumas alternativas para manter o mercado em movimento. Algumas peças chaves estão buscando parceiros e outras adquirindo uma fatia de um mercado que até recentemente era tão promissor. Daqui a alguns anos, teremos um setor, não mais pulverizado, mas consolidado nas mãos de poucas empresas.

(*) – É sócio da área de óleo e gás da KPMG.