184 views 6 mins

Finanças pessoais e medicina, um choque cultural?

em Artigos
quinta-feira, 23 de junho de 2016

Alberto Monteiro Barroso de Sousa e Getúlio Barroso de Sousa Júnior (*)

A organização financeira ainda é tabu na medicina, sendo que muitos médicos colocam de forma bastante clara que medicina e organização financeira não combinam. Mas por que isso? Por que ser tão fatalista e conclusivo nessa temática?

Na medicina é muito abordado o termo “biopsicosocial”, que nada mais é do que enxergar o ser humano de forma integral, saúde física, mental e meio em que vive e trabalha. Alguns teóricos colocam o lado espiritual também nessa abordagem. Entendemos que esse mesmo termo deve ser usado também na análise de cenários financeiros, ou seja, é equivocado entender que um médico tenha o mesmo entendimento e conhecimento que um executivo do mercado financeiro quando o assunto é finanças pessoais.

E é nesse ponto que entra o grande desafio dos profissionais da medicina, a cultura ligada a seu trabalho versus a cultura nas finanças pessoais. A cultura do trabalho médico é muito imediatista, ou seja, se não medicar um paciente a doença vai piorar, se não fizer uma cirurgia, o paciente pode morrer e assim por diante. São muitos os casos que só do médico ver o paciente, observar como ele caminha, seu olhar, onde posiciona a mão e a força de seu cumprimento, já tem certeza, ou quase, do diagnóstico. Os profissionais de medicina pensam e concluem muito rapidamente, o que é maravilhoso e deve permanecer assim, pois o impacto da rapidez no diagnóstico salva muitas vidas.

A cultura médica é imediatista, não gosta de burocracia e não há problema nisso. O desafio está quando os referidos profissionais levam esse jeito de ser para outras situações da vida, principalmente as burocráticas. Ou seja, vai abrir uma clínica, abre rápido, vai analisar os investimentos disponíveis no mercado, analisa rápido, vai refinanciar uma dívida, refinancia rápido. Em questões burocráticas, a rapidez é uma grande inimiga e exatamente por isso, em muitos casos, a burocracia é uma pedra no sapato dos profissionais da medicina.

Além dessa questão, tem a peculiaridade de que o profissional de medicina demora muito tempo para começar a colher os frutos financeiros de seu trabalho e quando isso acontece, passa a receber rendimentos altos e com pouco entendimento de finanças pessoais, já que esse assunto, infelizmente, não é abordado na formação acadêmica, passa a gastar mais do que recebe.

Isso gera uma visão equivocada de que é preciso aumentar os ganhos para custear as despesas e faz com que o profissional trabalhe além de suas forças, quando o correto é que a riqueza não vem apenas do aumento do rendimento, mas sim do controle das despesas. Mas esse “fatalismo” que médico e finanças não combinam deve ser extirpado da cultura médica, pois se eu perguntar para você quem cuida melhor do seu dinheiro, um médico ou um executivo do mercado financeiro, provavelmente você responderá ser o executivo, mas e seu eu te disse que esse executivo acabou de descobrir que está com câncer de pulmão em estado avançado?

Quem cuida melhor de suas finanças agora? O médico ou o executivo? Percebe que a resposta embaralhou? Pois é aí que entra a questão biopsicossocial. Cuida melhor de suas finanças pessoais aquele que tem seu cenário biopsicossocial mais equilibrado. Simples assim. Então está na hora de jogar na lata do lixo esse entendimento fatalista que medicina e finanças pessoais não combinam. Claro que existe um choque cultural relevante, que não deve ser ignorado, entre uma cultura imediatista e outra burocrática, mas que se bem trabalhada, pode se tornar um grande diferencial!

Médicos de nosso amado Brasil, não se esqueçam que a rapidez de pensamento de vocês está diretamente ligada à incrível percepção sistêmica que vocês possuem acerca das reações de causa e efeito no corpo humano e a visão sistêmica, nas finanças pessoais, é uma característica que poucas pessoas possuem. Realmente rara.

Você já pensou? Cuidar de suas finanças com mais calma e com seu entendimento sistêmico? Agindo assim, o que era um problema pode ser um grande diferencial! Pense nisso!

(*) – Especialistas em finanças pessoais, certificados pela ANBIMA CPA-20, sócios diretores da GPF Consultoria – Organização Pessoal e Planejamento Financeiro. Autores do livro ‘Gestão de Patrimônio Familiar – Uma Visão Multissetorial’.