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Fator humano: risco para empresas

em Artigos
quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Susana Falchi (*)

Corporações dão pouco valor ao fator humano em suas matrizes de risco.

Ao recrutar executivos sem avaliar seu perfil comportamental podem colocar em xeque sua existência. Essa, porém, é a tônica do mercado. Executivos sempre são contratados com base em seus currículos, enquanto que suas demissões devem-se, em 90% dos casos, a comportamento e não à falta de conhecimento. Isso perdura, mesmo quando o noticiário revela grandes corporações ameaçadas por atos escusos e ilegais de seus líderes.

A última pesquisa Perfil Comportamental dos Executivos, elaborada pela HSD Consultoria em RH e pela Orchestra Soluções Empresariais, demonstra um crescimento do número de executivos que exibem desvio de caráter. De 3.500 profissionais que ocupavam cargos de comando em médias e grandes corporações no país entre os anos de 2014 e 2017, 27% demonstram considerável potencial para desvio de conduta. A pesquisa anterior, de 2013, apontava que 20% de 5 mil avaliações identificavam esse perfil.

A grande maioria dos processos de seleção e entrevistas estruturadas não possui metodologias que identifiquem desvios de caráter/conduta, particularmente no caso de executivos. Esses normalmente apresentam alto nível de inteligência cognitiva, o que favorece a elaboração de meios para obterem o que almejam. A manipulação vem como decorrência desse processo, por exemplo, com o uso de demasiada simpatia para a conquista de objetivos pessoais no ambiente profissional.

No estudo, são considerados desvios comportamentais características como ambição desmedida, conflitos de interesse em busca de ganhos pessoais, e condutas moral e ética. Dentre os atos praticados por executivos com desvio de caráter figuram maquiagem de resultados, apropriação indébita de valores, manipulação de dados e pessoas e outros que colocam a corporação em xeque.

Algumas empresas relutam ao decidirem pelo desligamento, mesmo quando tais práticas já foram percebidas, com a justificativa que alguns CEO´s utilizam que esses profissionais trazem resultados para o negócio. Ora, se há desvio de conduta comprovado pela auditoria, uma ação imediata e contundente deveria ser a ordem e não uma discussão. Até porque, com certeza, outras pessoas da organização sabem deste desvio de conduta.

Desta forma, a mensagem que se transmite é que tudo é permitido, desde que se traga resultados. Há um estímulo à impunidade. Por ocupar um cargo importante, alguns executivos acreditam que podem tudo e que não serão denunciados. É um reflexo de problemas que a nossa sociedade tem.

Muita gente acredita que o poder é um salvo-conduto para se fazer o que quiser. A sociedade, de certa forma, endossa isso.

(*) – É vice-presidente da Orchestra Soluções Empresariais.