Ricardo Saponara (*)
Tal qual um automóvel, a detecção de transações criminosas em uma organização deve passar por revisões periódicas para aumentar sua eficiência
Passados alguns meses desde a emergência do novo coronavírus, os impactos da crise de saúde pública e econômica já são notáveis para organizações no mundo inteiro. Um deles, infelizmente, é o aumento significativo na incidência de fraudes causada por diversos motivos como a disrupção de rotinas normais de trabalho e a pressão do lado de quem sofre os golpes, e a motivação financeira de quem comete esses atos.
Seja qual for o motivo, movimentos reforçados pela pandemia criaram oportunidades para o surgimento de novos fraudadores dentro das próprias organizações. Por outro lado, a situação atual criou um campo aberto para que os que já praticavam estes crimes, que entendem a emergência atual como uma fonte adicional de renda, o que provoca um aumento na incidência de fraudes externas.
Temos visto com cada vez mais frequência a engenharia social aplicada a fraudes contra o consumidor: fraudadores se passando por bancos e outros tipos de credores, o que é extremamente preocupante, principalmente quando pensamos em grupos como consumidores seniores.
Da perspectiva das organizações, a representatividade de fraudes também tem aumentado, tanto no setor privado, em mercados como o de saúde, quanto no governo, como vimos no caso do Auxílio Emergencial no Brasil. Tal situação requer um ajuste urgente das medidas implementadas pelo departamento de prevenção de fraudes de organizações, para garantir que as estratégias adotadas possam gerar o score necessário para identificar estes crimes.
O score é um sistema de modelos para detecção de fraudes, utilizadas por organizações para identificar as operações de maior risco em seus ambientes transacionais. Para que as análises sejam realmente efetivas, no entanto, é preciso calibrar os pesos de cada um dos critérios usados no score.
Tal qual a revisão periódica de um automóvel, essa calibragem constante é cada vez mais crítica – especialmente em um momento em que o perfil e o comportamento de indivíduos muda drasticamente e organizações se mostram mais frágeis, por estarem com seus recursos focados em outras tarefas igualmente importantes.
Essa recalibragem frequente do arranjo de scoring deve ser feita por todas as empresas que possuem uma estratégia de combate às fraudes, em qualquer setor e cenário. A avaliação da estratégia da organização é analisada e ajustes importantes são feitos, gerando benefícios como redução de falsos positivos e seus consequentes desperdícios de recursos.
Adicionar estas rotinas ao plano de prevenção de fraudes tornará as defesas da organização ainda mais robustas. O retorno financeiro de uma estratégia de combate a fraudes calibrada para responder às demandas apresentadas pela pandemia é bem claro: menor exposição ao risco e menos perdas financeiras. Por outro lado, tais ferramentas também permitem proteger a organização e seus stakeholders, como clientes e cidadãos, de atos criminosos em um momento desafiador como a crise da Covid-19.
A guerra contra fraudes passa por transparência e a tecnologia está disponível para garantir isso, de formas cada vez mais acessíveis. O que precisamos fazer é utilizá-la.
(*) – É especialista em prevenção a fraudes no SAS América Latina.