Ulisses Cason (*)
Nos últimos meses não há quem não tenha se assustado com a alta dos preços dos alimentos básicos.
Em cada ida ao supermercado, o brasileiro tem visto a conta subir e, muitas vezes, tem saído com o carrinho mais vazio. A alta de 14,8% nos preços de itens básicos em comparação com os 10,06% de inflação influencia diretamente em nosso poder de compra e faz com que cada família desenvolva formas para economizar e, assim, conseguir encaixar a lista de compras dentro do orçamento.
Alguns consumidores substituem marcas, outros diminuem quantidade, outros optam por comprar em atacado, enquanto há quem esteja atento às sessões de produtos próximos ao vencimento, já que muitos varejistas têm desenvolvido promoções chamativas para a categoria.
Em comum a todas as estratégias de economia – diante do cenário de valorização extrema de itens básicos como feijão, farinha de trigo, carne bovina, açúcar e café – está a necessidade de se evitar o desperdício de alimentos, principalmente quando falamos de itens frescos, como as proteínas.
De acordo com a FAO, cerca de 30% dos alimentos produzidos hoje no mundo não são consumidos. Este valor representa 1.3 bilhão de toneladas por ano e custa cerca de US$ 680 bilhões para países industrializados e US$ 310 bilhões para países em desenvolvimento. É muita perda, muita comida, muito dinheiro e muito recurso natural envolvido indo para o lixo.
Em toda a cadeia de abastecimento de alimentos, desde o produtor rural até o consumidor, a redução do desperdício de alimentos traz grandes benefícios para os negócios. Para agricultores, processadores e varejistas, um investimento de US$ 1 na redução do desperdício pode gerar um retorno de US$ 14. Mas, a questão precisa ser vista para além do retorno financeiro, precisa ser um compromisso moral.
Como parte da indústria de embalagem, sabemos que desempenhamos um papel fundamental no combate a redução de perdas de alimentos. Na América Latina, por exemplo, 20% do desperdício no varejo é devido à deterioração, cenário que pode ser mudado a partir do aprimoramento das embalagens, principalmente para a categoria de produtos frescos.
A indústria vem investindo fortemente em inovação para desenvolver novas soluções como, por exemplo, é a evolução dos sistemas de proteção a vácuo para embalagens termoformadas, que com uma alta barreira ativa duplica a vida útil dos alimentos embalados. No caso de carnes resfriadas, o shelf life é aumentado de dias para semanas, otimizando a operação do varejo e colaborando com um melhor aproveitamento do produto para o consumidor.
Outra tendência de embalagens que também tem colaborado com a redução de desperdício de alimentos e, com a economia dos consumidores, é a conveniência. Embalagens práticas e funcionais, com quantidades porcionadas ideais para cada padrão de consumo, contribuem em muito para evitar que parte daquele produto não seja consumido e acabe sendo descartado, além de beneficiar o bolso.
Não tenho dúvidas de que nós, que estamos envolvidos nesta cadeia, temos um papel essencial para vencer o desperdício e ajudar a alimentar mais pessoas com segurança e qualidade. Afinal, as transformações econômicas de cada tempo, muitas vezes oriundas de momentos de crise, exigem que a indústria busque na inovação soluções para atender aos novos hábitos de consumo, sem deixar de lado o compromisso com o desenvolvimento sustentável do planeta.
(*) – É vice-presidente da Sealed Air para América Latina (https://www.sealedair.com/br).