César Costa (*)
Usada originalmente na biologia, a palavra ecossistema remete às interações que ocorrem em determinado ambiente. É uma expressão que extrapola abordagens segmentadas sobre o mundo, incluindo um fator essencial: as relações. Como o conceito se aplica a todas as áreas da vida, faz sentido levá-lo para outras frentes além da ciência natural.
A partir dessa ideia, surgem os ecossistemas de inovação. Na mesma lógica do que acontece na natureza, os processos inovativos são potencializados quando existe colaboração entre diferentes agentes. Ao invés de uma empresa ou instituição evoluir de forma isolada, apenas em benefício próprio, os esforços passam a ser coletivos e os resultados compartilhados.
A cooperação impulsiona mudanças e expande nossas capacidades à medida que forma um ambiente com condições favoráveis em termos de cultura, investimento, política, recursos intelectuais e tecnologia. Essa é a base de um ecossistema de inovação com relações sinérgicas e harmoniosas, capaz de responder com agilidade a movimentos internos e externos.
Esses ecossistemas oferecem um cenário favorável, criado a partir da conexão entre diferentes atores, que é capaz de ultrapassar limitações e fazer toda a rede prosperar. Como a base desses ecossistemas é a geração de valor compartilhado, os benefícios alcançados coletivamente impactam tanto startups como grandes corporações, por exemplo, além dos outros agentes e comunidades locais.
Os benefícios de integrar um ecossistema de inovação são muitos. Mas, aqui, quero destacar três:
- – Troca de conhecimento e experiências – Um dos fatores que cria barreiras para a inovação é o contato com uma realidade restrita. Por mais tempo de atuação no mercado que uma empresa tenha, não há como substituir a troca de conhecimento e experiências com negócios de outros portes e segmentos. Cada agente do ecossistema identifica problemas a partir daquilo que vivencia e pode contribuir com pontos de vista diferentes para a cocriação de soluções inovadoras.
A colaboração permite que uma empresa aprenda com os erros de outros negócios, incorpore boas práticas e enriqueça o repertório de referências. Além disso, ideias que são amplamente debatidas e aprimoradas por um grupo diverso de pessoas tendem a ser mais efetivas.
- – Ampliação do networking – Um ecossistema de inovação pode render vínculos estratégicos a um negócio. O contato frequente com uma rede de empresas e profissionais proporciona amplas oportunidades para encontrar novos fornecedores, clientes, investidores e parceiros. A grande vantagem desse networking é que os atores de um ecossistema têm objetivos similares, facilitando o alinhamento de expectativas.
Não são apenas conexões diretas que surgem de um ecossistema de inovação. As relações de confiança estabelecidas entre os agentes também se refletem em indicações e no fortalecimento da imagem de uma empresa na comunidade.
- – Recrutamento de pessoas talentosas – As pessoas são a engrenagem que move a inovação. É a capacidade humana de criar que possibilita a geração de ideias realmente capazes de solucionar problemas. Por isso, não há nada mais importante para negócios inovadores do que contratar pessoas talentosas para fazer parte das equipes internas.
Quando se inserem em ecossistemas de inovação, as empresas desenvolvem características valorizadas por talentos em busca de espaço no ambiente corporativo atual, como flexibilidade, abertura ao novo, tolerância ao erro e colaboração. Esses negócios também passam a ser mais vistos por pessoas jovens em formação e interessadas em contribuir com uma cultura inovadora. Como consequência, os processos de recrutamento e seleção se tornam mais eficazes na atração de profissionais com as competências desejadas.
Portanto, ao integrar esses ecossistemas à sua estratégia de responsabilidade social corporativa, uma organização não apenas atende às expectativas da sociedade. Ela também promove uma cultura de impacto e inovação! E isso fortalece sua reputação e gera uma perspectiva positiva, além de valorizar diretamente a vida de todas as pessoas envolvidas, tornando as organizações agentes da transformação socioambiental e contribuindo para um mundo cada vez mais próspero.
(*) – Administrador pela UFRGS, é Mestre em Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade pelo PPGA/UFRGS e sócio e diretor da Semente Negócios.