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É preciso começar a reconstrução do futuro

em Artigos
segunda-feira, 23 de maio de 2016

Fernando Valente Pimentel (*)

No laboratório da história, a presente crise brasileira comprova o quanto estava certa a afirmação de Peter Drucker, pai da moderna administração, de que “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”.

Pois bem, a gravíssima conjuntura que enfrentamos resulta de uma série de erros e omissões do passado recente e do não tão recente ,que poderiam ter sido evitados, pois não faltaram alertas, sugestões, críticas construtivas e muito diálogo por parte dos setores produtivos e da sociedade em geral . Agora, é fundamental construir um novo amanhã a partir de uma série de medidas urgentes. Em síntese, é preciso reduzir o tamanho do Estado e realizar uma profunda reforma tributária e fiscal, para que se contenha o déficit público e, ao mesmo tempo, se atendam às prioridades nacionais, econômicas e sociais, sem aumento de impostos. Tal tarefa inclui a reforma previdenciária.

Também é necessário reduzir os juros, sem voluntarismo, pois não existe atividade produtiva que suporte, de modo contínuo, as taxas reais mais altas do mundo praticadas no País. É premente, ainda, um choque de desburocratização e de produtividade, visando a um ganho de competitividade nas exportações e na defesa de nosso mercado interno, bem como a atualização de nossa agenda trabalhista para o Século XXI. Somente assim conseguiremos nos inserir de modo mais amplo nas cadeias globais de valor.

Todos esses pontos estão contemplados nos diagnósticos feitos na busca de saídas para a tríplice crise que vivemos: política, econômica e ética. Existe um razoável consenso sobre os caminhos a serem adotados. As soluções não serão indolores, simples e rápidas, mas precisam ser implementadas de imediato. Por outro lado, políticas críveis e consistentes melhorariam o humor da sociedade e resgatariam a confiança em nossa possibilidade de retomar os rumos do desenvolvimento e voltar a crescer em um futuro não muito distante. Que, mais uma vez, seja quem for o governante, as necessárias mudanças não se limitem ao plano das promessas…

É grande a expectativa dos setores produtivos. A indústria, além da permanente mobilização política na proposição das medidas voltadas à retomada do crescimento econômico, não está inerte quanto às suas próprias lições de casa. Exemplo disso é o projeto Têxtil 2030, que contempla, dentre outros temas, o estudo “Confecção 4.0: uma visão para o futuro”, elaborado pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (SENAI CETIQT).

O trabalho mostra que, tradicionalmente identificada como atividade de baixa intensidade tecnológica, mas fortemente inserida na economia criativa, a indústria têxtil e de confecção poderá dar um salto qualitativo em direção às categorias de maior emprego de ciência e tecnologia. Para isso, terá de ser capaz de disseminar sistemas ciberfísicos, internet das coisas e dos serviços e automação modular em sua manufatura.

Favorecida pelos limites dos modelos de competitividade baseada nas vantagens do trabalho de baixo custo, a gradual alteração no grau de intensidade tecnológica poderá reduzir muito as dificuldades encontradas no Brasil, como o ambiente de negócios hostil a quem acredita e investe no País. A intensificação de novas tecnologias e a hibridização de produtos e serviços deverão resultar em mudanças na estrutura industrial, oferecendo oportunidades a novos modelos de negócios.

A indústria e todos os setores produtivos estão preparados para fazer a sua parte.

Porém, é decisivo que, finalmente, sejam adotadas políticas públicas transformadoras, dentre elas medidas macroeconômicas eficazes. Feito isso, atrairemos vultosos investimentos externos, que se somarão aos internos, na prospecção das imensas oportunidades existentes no Brasil, desde a demanda de infraestrutura até os serviços e a produção para atender a um mercado interno de 210 milhões de habitantes e bilhões de consumidores mundo afora.

Assim, é necessário que os governantes tenham visão de estadista, para levar a cabo a missão de criar um novo futuro para o Brasil. Caso contrário, cairemos na mediocridade e jamais seremos um país rico, gerador de oportunidades e com melhor distribuição de renda!

(*) – É diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).