Marco Antonio dos Anjos (*)
Vem chamando a atenção a passividade do brasileiro, beirando o desinteresse, sobre a participação da seleção nacional na Copa do Mundo na Rússia.
Para o Brasil, conhecido como o país do futebol, essa situação pareceria impossível em um passado não muito distante. O que está acontecendo?
Várias hipóteses são aventadas como resposta e uma frequentemente ouvida seria o fracasso do time brasileiro na Copa anterior disputada em solo nacional e cujo desfecho foi trágico: 7 x 1 para os alemães.
Embora pareça esclarecedora, essa explicação não me convence, já que não se amolda à história do futebol nacional. Desde a grande decepção de 1950 no Maracanã, com a derrota por 2 x 1 para os uruguaios, o torcedor convive com vitórias empolgantes e derrotas sofridas e às vezes surpreendentes. Nem por isso o amor à amarelinha pareceu diminuir, bastando lembrar a queda diante da Itália na Copa de 1982. Até hoje aquela seleção é elogiada e vista como demonstração da qualidade que o futebol brasileiro pode apresentar.
Talentos nacionais pouco permanecem no Brasil e às vezes vão para outros países ainda muito jovens. O sonho dos garotos não é mais jogar em um grande clube do país ou na seleção. O que realmente seduz é o brilho de clubes espanhóis, alemães e ingleses, aliado a altíssimos salários. Isso resulta em uma situação frequente e triste: quantos brasileiros conhecem a escalação do time titular brasileiro e já viram todos esses jogadores atuar?
Outro aspecto que pode ser observado é que a Copa anterior aconteceu no Brasil, o que aumentou a expectativa criada ao evento, que foi muito comentado em diversos aspectos e, naturalmente, chamou a atenção dos torcedores antes do normal. A possibilidade de vitória da seleção em solo brasileiro empolgou muitos torcedores. Esses fatores ligados diretamente ao esporte, porém, parecem ser pequenos diante do que penso ser a verdadeira causa dessa inércia. O motivo é político e, principalmente, econômico.
Além de uma recessão nos últimos anos, a esperada recuperação da economia não veio. O país quase parou com a greve dos caminhoneiros e não há sinais claros de que o poder de compra do brasileiro melhorará tão breve. Dado ainda mais eloquente está na média de desemprego de 2010 e 2014, anos das Copas anteriores; elas foram, nos meses de junho e julho desses anos, respectivamente, de 6,95% e 4,85%. Já em 2018 a média do primeiro trimestre foi de 13,1%.
Não está sobrando dinheiro para comprar uma camisa amarela nova ou preparar uma festa de comemoração. Some-se a isso uma certa desolação e descrença em relação à política nacional, que pode ser constatada pela pequena participação política em ano de eleição. Em anos anteriores, o cenário eleitoral já estava bem mais definido do que atualmente e, até o momento, poucos se arriscariam a prever quem estará no segundo turno.
Assim, diante de tantas dificuldades econômicas e incertezas políticas, não é uma derrota vergonhosa que tira do brasileiro a atenção pelo futebol, mas, sim, um momento de preocupações e dúvidas que uma vitória na Copa do Mundo não irá reduzir.
(*) – É professor de Direito Civil na Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas.