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Do que o Brasil precisa: reforma política ou reforma dos políticos?

em Artigos
quinta-feira, 09 de novembro de 2017

Rabino Samy Pinto (*)

A descrença da população nas promessas constantes de melhorias e de reformas demonstra o grande desgaste em tudo que envolve o meio político.

A cada dia estamos mais próximos das eleições de 2018, e os brasileiros diariamente encaram uma realidade de dúvida e apreensão em suas televisões, jornais e qualquer meio de informação sobre a situação política do país. Em uma pesquisa realizada no início de 2017, pela Edelman Trust Barometer, é apresentado que 62% dos brasileiros perderam a confiança no sistema, sendo a corrupção o maior medo de 70% dos pesquisados.

Infelizmente a política passou a ser considerada uma escola para ficar rico da noite para o dia. Cada vez mais se vê pessoas que estão ali com o objetivo de dar uma guinada em sua própria vida. Em uma rápida pesquisa feita no site do Tribunal Superior Eleitoral é possível constatar o grande crescimento de eleitores que se afiliaram a algum partido para assim dar os primeiros passos na vida pública. Em 2017, já somam mais de 2.400.000 eleitores filiados na faixa etária entre 16 e 34 anos. Uma situação péssima para a população e para a imagem do governo. Essa visão de enriquecimento usando um cargo público é alimentada quando o sistema governamental é corrupto.

Neste cenário se enobrece a esperteza, fazendo com que a juventude brasileira seja incentivada a pensar que a possibilidade de roubar vale a pena. E o que agrava ainda mais é fazer com que a sociedade acredite que ser honesto não traz nenhum benefício e acabará por levar o indivíduo a pobreza.
Esse é o retrato que o homem público passa para a sociedade. Com essa imagem tão desgastada e sem credibilidade que os políticos no Brasil atualmente possuem, apresentar propostas de reforma política parece não ser suficiente para sanar todos os problemas escancarados para a população durante todos esses anos.

Um texto bíblico representa bem a situação do país. No livro de Ezequiel é apresentado ao profeta um vale de ossos ressecados, e Deus o questiona: “Por ventura viverão esses ossos?” – o trecho induz a reflexão sobre a ausência de esperança. Hoje, pela quantidade de escândalos que foram produzidos e acumulados em vários e vários anos, falar sobre reforma não resolve a questão, precisamos falar sobre uma ressureição política. E o que temos hoje são os ossos ressecados da profecia de Ezequiel na política brasileira. Então o que seria a ressureição política?

A velha política está ressecada, mas continua esperta. Quando o tema reforma é debatido, parece que isso é feito apenas para garantir mais um mandato e fortalecer a si mesmo, e com isso são construídas trincheiras para defender seus partidos. Estão legislando em causa própria, e tudo que é proposto pelos políticos leva à ideia da literatura, que o papel aceita tudo. Mas a verdade é que a culpa da situação do governo e da sociedade brasileira não é do papel e nem da caneta, mas sim, de quem escreve.

O Brasil não precisa de uma reforma política, precisa de uma reforma do ser político, e isso é ressureição. Ele deve entender que está lá para servir o povo, e não para enriquecer. Para isso, deve-se restabelecer critérios do perfil do político, do parlamentar, do ministro, dos gestores e do próprio presidente. Para que a ressureição política seja feita com sucesso, é preciso ver se é possível reviver com os políticos que estão ativos, ou preparar uma nova geração, e como fazer esse período de transição.

Os ossos ressecados da política devem começar a ganhar vida com a reforma do ser político, mas devem ir além, e também servir como motivadores da reforma do ser eleitor. A ressureição vai realmente acontecer quando todos reverem os próprios conceitos, pensar em quem votar e o motivo que o levou a isso, reconhecendo a importância de exercer o seu direito como cidadão. Assim será possível reconstruir a imagem dos homens público e do governo no Brasil.

(*) – Formado em Ciências Econômicas na Universidade Bar-llan, em Israel, fez mestrado e doutorado em Filosofia, pela USP. É diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém e responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins também conhecida como sinagoga da Abolição.