Ana Elisa Bacha Lamounier (*)
“É a incerteza que nos fascina. Entre brumas, tudo é maravilhoso”. Oscar Wilde
Depois de um começo de ano pouco animador, a aprovação da reforma da previdência trouxe novo alento aos agentes econômicos. Ainda que votada apenas em primeiro turno, o protagonismo assumido pelo legislativo compensou em parte um Executivo ruim de articulação política e abriu novos horizontes para a aprovação de medidas importantes para a reorganização da economia brasileira. Sem dúvida, a sinalização foi boa, mas necessita ser referendada em segundo turno e em duas votações no Senado.
Outros fatores positivos foram a privatização da Petrobras Distribuidora e a venda da participação que o Tesouro Nacional e o Banco do Brasil possuíam no IRB, o Instituto de Resseguros do Brasil. As duas operações renderam mais de R$ 15 bilhões, mostrando ser grande o apetite dos investidores. O momento parece ser promissor para deslanchar o programa de privatizações, reforçando o caixa do Governo e reduzindo a dívida pública, além de incrementar a eficiência na economia.
Igualmente relevante é o controle da inflação. O Banco Central vem desenvolvendo a política monetária com muita habilidade. O IPCA, indicador que baliza a política de metas de inflação, tem ficado abaixo do objetivo para este ano, que é de 4,25%, e as projeções do mercado indicam que deverá ficar dentro ou abaixo da meta até 2021, e levemente acima em 2022. Sendo baixo o nível da atividade econômica, nunca o ambiente para uma redução mais expressiva nos juros foi tão favorável.
É possível, e provável, que os juros caiam nos próximos trimestres para novos recordes de baixa, com impacto significativo para os gastos financeiros do governo e do setor privado. Taxas de juros baixas podem também ajudar a deslanchar o mercado de capitais, estimulando emissões de ações, de debêntures e de outras modalidades de captação por parte das empresas no lado real da economia, barateando o custo do capital.
No âmbito externo, o momento da economia global gera apreensão: depois de um período de bom crescimento, a atual desaceleração preocupa, pois expõe as atuais limitações dos instrumentos de política econômica. Com efeito, o mundo ainda parece sofrer com as sequelas da crise das hipotecas de 2008. As dívidas das famílias continuam elevadas, o que limita o crédito e, consequentemente, a expansão do consumo, que provavelmente continuará lenta.
Os principais países possuem elevado endividamento público, reduzindo a capacidade da política fiscal em estimular a economia. As diabruras do presidente norte-americano, quebrando regras bem estabelecidas do comércio internacional, desorganizaram parte das cadeias globais de negócios, gerando desconfiança e incerteza, o que produziu uma forte retração nos investimentos. Por fim, as taxas de juros estão muito baixas, o que limita a força da política monetária em gerar novos estímulos.
Ainda assim, os bancos centrais mundo afora estão agindo, relaxando ainda mais suas políticas e prometendo, se necessário, medidas adicionais de estímulo, o que provavelmente incluirá uma nova rodada de expansão monetária, o tão famoso QE (quantitative easing), a injeção de liquidez para reduzir o custo e estimular o crédito, principalmente na zona do euro. Esses movimentos podem ser vistos em todas as partes do globo, da América do Norte e Europa, até a Ásia e Oceania.
A percepção de que os juros permanecerão num nível muito baixo por um período extremamente longo, deverá levar os investidores a aumentarem suas apostas nos mercados de maior risco, como bolsas de valores e países emergentes. Portanto, a despeito das ressalvas feitas, a conjuntura internacional poderá ser vantajosa para o Brasil.
Cabe agora ao governo encaminhar outras medidas para criar as condições de crescimento da economia e do emprego, mas para isso terá que agir com sensatez. A proposta de imposto único ou de retorno da CPMF, por exemplo, é um passo atrás. A oportunidade está sobre a mesa. Deixando de lado o discurso excessivamente ideológico, temos todas as condições para aproveitá-la.
(*) – Mestre em engenharia de produção pela USP, é CEO e sócia-fundadora da Sparks Capital, com experiência em Investment Banking e Private Equity em Londres, Nova York e São Paulo (www.lamounier.site).