Nivea Martini (*)
Atecnologia atraiu muita mão de obra ao redor do mundo.
Há algumas semanas as notícias sobre as grandes empresas de tecnologia – as Big Techs – estão chamando a atenção por um motivo diferente dos grandes feitos dessas corporações: as demissões em massa. Google, Meta, Amazon, Philips e Twitter, entre outras, demitiram um número de colaboradores que chega a casa dos milhares e a pergunta que fica é: o que aconteceu para que chegassem a esse ponto?
Tido como um dos segmentos mais promissores da economia global, a tecnologia atraiu muita mão de obra ao redor do mundo. Muito antes das mudanças nos formatos de trabalho impostas pela pandemia, as grandes empresas do setor já atuavam com modelos diferenciados, como o trabalho remoto e sedes convidativas, para se destacar do modelo tradicional.
Além disso, vivemos o “período fértil” das big techs, com grande injeção de dinheiro para projetos inovadores – e muitas contratações. Neste período as empresas cresceram e contrataram muito para que essa mão de obra atuasse em “apostas” ou em busca de novos unicórnios, com a ingestão de capital feito por investidores e nem sempre com garantia de retorno – o famoso capital de risco.
E o que aconteceu? O caso das big techs pode ser analisado por, pelo menos, dois vieses diferentes. Um deles é o do sensacionalismo: fala-se que estamos em uma grande crise, da qual as big techs também têm culpa, que os líderes não olham para as pessoas e que realizam demissões em massa de forma jurássica e os números absolutos realmente chamam a atenção.
Do outro lado, uma visão mais pragmática da questão: temos a tese de que quanto mais inovação, maior a possibilidade de gerar unicórnios; as venture capitals inserem dinheiro e fomentam big techs e grandes startups para que inflem o quadro de pessoas – porque com mais times, você teria mais inovação e mais possibilidades de ter projetos disruptivos. A verdade é que isso não funcionou e chega então o momento fatídico onde as venture capitals começam a cobrar o retorno desse dinheiro.
Quando se percebe que depois de quatro anos o retorno sobre o investimento não chegou, e dificilmente chegará porque você entra num novo modelo de maturidade, o que acontece é que esses investidores dizem “Chega, devolve o meu dinheiro porque você não está crescendo do jeito que a gente imaginou”. Havia uma ilusão de crescimento de 30%, 40% ao ano e quando isso acaba eles dizem “vamos fechar a torneira”. Porém, a demissão sempre existiu. As máquinas foram inchadas para tentar entregar mais produto, de mais valor, e não deu certo.
Quando você olha o histórico de demissões o Google, a Apple, o LinkedIn, a Meta, eles sempre demitiram por volta de 1% a 5%. Como houve uma desestabilização, naturalmente vão acontecer mais demissões – já era natural, mas vai demitir um pouco mais. Então, a causa desse movimento é justamente a aposta que as big techs fizeram na geração de valor e que não deu certo: investiu dinheiro, colocou mais gente para produzir mais e na verdade não produziu.
É possível evitar que se chegue nesse ponto? Depende de muitos fatores, mas uma das ferramentas é fazer uma gestão descomplicada, com um modelo de atuação personalizado, que proporcione oportunidade de aprendizado e crescimento. Comunicação clara e objetiva também é algo que agrega valor da identificação dos talentos às entregas.
Identificar oportunidades de inovação nos gaps do mercado, ouvir o time e reconhecer falhas nos processos são pontos primordiais, que podem fazer a diferença entre o sucesso de um projeto ou uma ruptura brusca – como as demissões em massa.
(*) – É Gestora de Alocações na Mouts TI (https://mouts.info/).