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Degradação diminui a capacidade da floresta de reduzir o aquecimento

em Artigos
quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Karina Custódio (*)

A Floresta Amazônica está perdendo sua capacidade de regular o ciclo da água e seu papel de remoção de carbono da atmosfera, o que pode impactar todo o planeta.

É o que destaca o relatório anual “Dez novas percepções sobre o Clima”, que compreende as principais descobertas das pesquisas sobre questões ambientais e climáticas globalmente. As evidências sobre a Amazônia foram incluídas com a contribuição do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Ameaças ambientais como o fogo, a extração de madeira, a expansão da agricultura e grandes construções como barragens e estradas, além do aumento de eventos climáticos extremos reduzem a resiliência da floresta. Sinais preocupantes da degradação têm surgido, impactando a capacidade da floresta de remover carbono da atmosfera.

O estudo alerta que o aumento da degradação pode intensificar os efeitos da emergência climática alterando fatores determinantes para a saúde da vegetação, como a temperatura e a umidade, podendo gerar um colapso em partes bioma, que pode ser irrecuperável. Segundo a CCAL, calculadora de carbono do IPAM, em 2022, a Amazônia acumulava 47,2 bilhões de toneladas de carbono em sua vegetação, já tendo perdido até então mais de 10,6 bilhões de toneladas devido à degradação do ecossistema, que já alcança mais de um terço da floresta.

“Mais de 16% da água do planeta tem seu ciclo regulado pela Amazônia, a floresta é um dos maiores sumidouros de gases de efeito estufa do mundo. Parar a degradação do bioma é urgente pois isso está impactando esses dois serviços ecossistemicos fundamentais.”, aponta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM. A recuperação de áreas degradadas e o fortalecimento de comunidades locais é indicado no relatório como uma saída para aumentar a resistência do bioma aos efeitos das mudanças climáticas conservando seus serviços ecossistêmicos.

O documento também recomenda políticas necessárias para evitar que a Amazônia atinja seu ponto de não retorno, entre elas o fortalecimento de Leis ambientais que combatam a degradação, nos países que abrigam a Amazônia; a continuação de financiamento para programas de monitoramento e rastreamento de commodities e o apoio a povos indígenas e comunidades locais para o desenvolvimento de uma economia sustentável.

Além da degradação da Floresta Amazônica, o relatório também revela outras nove descobertas da Ciência relativas ao clima nos últimos dois anos. Muitas delas apontam para uma intensificação do aquecimento global e suas consequências como: o aumento da emissão de metano; ondas de calor estão tornando mais regiões do planeta inabitáveis; o El Nino tem piorado seus efeitos, aquecendo os oceanos; e extremos climáticos estão ampliando riscos à gravidez e à saúde de crianças.

Há também apontamentos positivos, como o registro do potencial de um sistema que integra tecnologia e ecologia para tornar cidades mais resistentes a desastres climáticos como ondas de calor e inundação. Sugestões relativas à gestão de minerais, de modo a gerar uma transição energética mais justa e, ainda, como construir políticas energéticas justas aumenta a aceitação do público a essas mudanças.

(*) – É Jornalista do IPAM.