Benjamin Yung (*)
O momento pede o desenvolvimento de uma rigorosa estratégia em nome não mais do crescimento, mas da sobrevida do negócio.
Os índices econômicos negativos que seguem sendo divulgados pela imprensa nacional, somados aos também negativos índices com relação ao governo atual mostram claramente que o período de instabilidade permanece, sem qualquer previsão ou sinal de recuperação. Hoje, no Brasil, não há setor que esteja passando incólume à crise. Segmentos como o da construção civil, o automobilístico e o sucroalcooleiro sofrem intensamente os efeitos da turbulência econômica nacional.
A queda de receita e de margem reduziu a capacidade de as empresas cumprirem os compromissos financeiros. Na construção civil, estamos vendo estoques enormes e descontos ofertados de até 50% na tentativa de minimizar prejuízos. A indústria de automóveis, por sua vez, registra forte retração, tanto nas vendas – a pior nos últimos oito anos – quanto nas exportações de veículos, o que tem provocado a dispensa de trabalhadores. Muitas montadoras estão sendo socorridas pela matriz, mas indústrias que formam a cadeia de fornecedores desse setor sofrem tão ou mais com a crise.
Já o segmento sucroalcooleiro vem amargando anos críticos por conta de uma política problemática, cenário que culmina em pedidos de Recuperação Judicial e fechamento de centenas de usinas pelo país. Setores do comércio e de serviços também estão sendo diretamente afetados pela crise. Segmentos como o vestuário, o de alimentos e o de varejo em geral registram retração. Redes de eletroeletrônicos, por exemplo, calculam queda de 30% nas vendas neste semestre em comparação ao mesmo período do ano passado. Mesma queda foi sentida pelo mercado de livros. Junho foi considerado o pior mês do ano para as editoras.
Para o empresariado brasileiro, o momento pede extrema cautela e o desenvolvimento de uma rigorosa estratégia em nome não mais do crescimento, mas da sobrevida do negócio. Nesse sentido, o apertar dos cintos e o controle do fluxo de caixa, com mãos de ferro, é, mais do que nunca, essencial. Imaginando-se um período mínimo em que a insegurança com relação à política do atual governo iniba a realização de investimentos, a implementação da previsão de fluxo de caixa deve ser, de pelo menos, seis meses.
Para isso, é preciso que o empresário conheça detalhadamente seus custos e despesas atuais e provisione ao máximo, diante do risco iminente de esvaziamento do caixa da empresa. As despesas e custos devem ser revistos por completo, de modo que o empreendedor identifique onde pode cortar, sem que o serviço ou produto entregue ao cliente tenha a qualidade afetada. Esse cuidado é muito importante, porque de nada adianta cortar gastos que interfiram qualitativamente, o que resulta em insatisfação e perda de clientes, patrimônio valioso e escasso em tempos difíceis.
No rol de redução de despesas, há que se avaliar opções como a venda de ativos (desmobilização), mudança de planta, principalmente em casos onde há ociosidade, o enxugamento do quadro de funcionários e até mesmo o desinvestimento, ou seja, a venda de unidades ou linhas de produto. A busca de mercado internacional, em alguns segmentos, pode ser uma alternativa frente ao desaquecimento do mercado nacional. Vale ressaltar, entretanto, que a concorrência mundial é enorme e muito difícil, ainda mais por conta da elevada carga tributária praticada no país.
Estudar a hipótese de se contratar um consultor especializado em reestruturação também pode ser uma alternativa. Esse profissional pode auxiliar na elaboração do plano e das projeções financeiras, assim como na intermediação e negociação com credores. Pode, ainda, auxiliar na obtenção de novas linhas de crédito, já que possui relacionamento e acesso direto às mais diversas instituições financeiras. Embora o país esteja vivendo um período de crescimento no número de pedidos de Recuperação Judicial nos mais diversos ramos empresariais, este deve ser visto apenas como última alternativa, após o esgotamento de todas as outras ferramentas de controle e de gestão.
Para quem empreende no país, os dias têm sido de grande dificuldade. O sacrifício para manter um negócio, pelo menos, em curto e médio prazo, é enorme. O preço a ser pago é muito alto. Mas, é preciso passar por isso à espera da volta da abundância e dos investimentos internacionais, recolocando o país na tão desejada rota de crescimento.
(*) – É especialista no segmento de reestruturação financeira e fundador da consultoria Estratégias Empresariais ([email protected]).