Júlio Simões (*)
A gestão de um país deve ser feita com a mesma transparência recomendada aos dirigentes de empresas.
Contabilidade sem truques, responsabilidade nos gastos (estes nunca devem superar a receita), racionalização do quadro de funcionários e política de recompensa ao mérito. Tais recomendações parecem a maior das obviedades, mas tudo o que descrevem é o exato oposto do que se pratica no Estado brasileiro. Para começo de conversa, a desordem nas contas públicas é notória.
Alimentado por uma carga tributária escorchante, o Estado distribuiu benesses como se fosse uma dessas figuras míticas de contos de fadas, que passam pelas aldeias fazendo chover ouro sobre os camponeses, libertando-os para sempre da pobreza e propiciando um duradouro final feliz. Só que o final feliz do Brasil tem hora para acabar, pois nada corrói mais as finanças do povo do que a inflação crescente. Se as empresas temem investir, o País perde postos de trabalho, chances de inovação, oportunidades de progresso…
Também vivemos sob o efeito deletério das “pedaladas fiscais” praticadas no mandato anterior de Dilma Rousseff. Inflação que sobe, perspectiva de recessão, altas inevitáveis do dólar e das taxas de juros – tudo isso foi sendo construído aos poucos, por meio de estímulos que respondiam aos apelos de grupos com interesses próprios e de um incentivo ao consumo interno que, com o passar do tempo, mostrou-se insustentável. O quadro foi agravado pela perigosa estratégia de contenção artificial dos preços dos combustíveis e da energia elétrica.
Não bastassem as más decisões no campo da política econômica, o governo pecou no gerenciamento do País e praticou uma arriscada hipertrofia em diversas instâncias. Agigantado, o Estado tem o maior número de ministérios de todos os tempos, além de 18 mil cargos comissionados – ou seja, milhares de pessoas possuem empregos públicos sem que para isso tenham se submetido a concursos ou passado por qualquer tipo de crivagem objetiva. Laços de amizade e parentesco ou afinidade político-partidária prevalecem sobre a qualidade efetiva do trabalho prestado, o que desmotiva os melhores servidores públicos (sim, eles existem!).
É nesse cenário que mescla ineficiência estatal com distorção cultural que nós, empreendedores brasileiros, precisamos nos mover nos difíceis dias atuais. Não existe a opção de cruzar os braços e esperar para “ver o que acontece”. Se aqueles que ocupam os mais altos cargos políticos do País não fazem sua parte, cabe a nós, “o povo”, colocar a mão na massa e lutar para dar aos nossos negócios melhores feições, com muito mais eficiência gerencial, atenção às inovações que podem propiciar resultados excelentes com menor consumo de recursos e uso da mão de obra mais qualificada e comprometida que conseguirmos captar.
Nada está fácil. A economia é um encadeamento de inúmeros elos – quando um deles se rompe, a harmonia quebra-se e se torna muito mais difícil tentar restabelecer os fluxos. O que a presidente Dilma e seus inúmeros assessores, ministros e demais coadjuvantes do poder precisam ter em mente é que qualquer reforma estrutural deve ser pensada de modo a não abalar ainda mais as nossas já fragilizadas cadeias produtivas.
O Brasil vive um momento delicado, mas será possível extrair dele algumas boas oportunidades – desde que o Estado não atrapalhe a Nação mais do que já atrapalhou, e que o bem de todos os brasileiros seja priorizado em detrimento das eventuais picuinhas políticas e dos mesquinhos jogos de poder.
(*) – É presidente da Locar.