Antonio Carlos Lopes (*)
O mundo assiste a uma pandemia, ao menos é o que afirmam os principais meios de comunicação, ancorados em fontes das mais distintas, médicas ou não.
A rápida expansão global do Coronavírus tem desestabilizado os diversos setores e parece ter atingido parcela da mídia de maneira avassaladora. Antes de entrar em pânico, é necessário analisar de forma crítica o cenário criado pela doença, assim como as diversas afirmações divulgadas recentemente. Diante dos desdobramentos da epidemia no Brasil, há tópicos essenciais a serem destacados.
O primeiro passo é relembrar a Gripe Suína (H1N1), que matava e ainda muito mais, em comparação ao Coronavírus/COVID-19. Aliás, em 2009, foi registrado o pico da doença, mas, até hoje, o vírus continua a infectar brasileiros. Atualmente, o País apresenta dez vezes mais casos de H1N1. De acordo com o Ministério da Saúde, no ano passado, somente no Brasil, foram 796 mortes e 3.430 pessoas infectadas.
Portanto, a gripe matou 23,2% dos pacientes internados, uma porcentagem que representa 23 mortes a cada 100 doentes. É responsável ressaltar ainda que a taxa de letalidade de uma doença é calculada pela razão entre o número de pessoas que morreram e o total de casos. Porém, nem sempre é fácil calcular esse índice, já que muitos com sintomas mais leves, nem procuram um serviço de saúde.
Em contrapartida, a morte sempre é contabilizada certamente. De acordo com informações do Johns Hopkins Coronavírus Resource Center, a taxa de mortalidade real do coronavírus é de 0,2%: a mesma taxa de mortalidade geral. Visto que o COVID-19 causa infecções respiratórias brandas a moderadas, representa maior ameaça às pessoas com doenças prévias ou idosos.
No grupo de risco estão pacientes em tratamento oncológicos, cardiopatas, diabéticos, pessoas com insuficiência renal crônica ou doença respiratória crônica. Assim, quando se fala em mortalidade, é fundamental levar em consideração a idade, outras enfermidades associadas, o local, a equipe médica envolvida e a estrutura de suporte de vida disponível para esse paciente que, infelizmente, não é a mesma para todas as regiões do Brasil.
Frente a esses dados, é inevitável pensar na criação de uma paranoia irresponsável em torno do assunto, prejudicando o comércio, as atividades esportivas e a própria rotina das pessoas. Inclusive, esse pânico gera situação de caos que pode levar até à falta de suprimento nos supermercados.
Outro ponto a ser avaliado é a possibilidade de o Coronavírus estar servindo como estratégia política e de marketing, desviando o foco de situações políticas em curso no Brasil e no mundo. Parece que se perdeu de vista a noção de que a doença raramente apresenta complicações mais sérias e o tratamento necessário é basicamente o repouso.
Por fim, é mister alertar sobre a prevenção. O uso da máscara e do álcool não apresentam a mesma eficiência quando comparado à higienização das mãos com água e sabão. Além disso, evitar colocar a mão na boca e olhos é outra medida essencial. Gerar pânico não é a melhor maneira de conduzir esse tipo de situação. É indispensável atentar-se às declarações sem fundamentos e equivocadas.
Dados e números são informações valiosas capazes de fornecer um panorama da situação, tornando-se ferramentas ao combate da doença. Porém, isolados podem não dizer nada. Pense e compare antes do desespero.
(*) – Médico, é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.