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Consciência em tempos de cólera

em Artigos
terça-feira, 03 de novembro de 2015

Luís Antonio Torelli (*)

Embora o Brasil tenha a quinta maior população e o sétimo mercado consumidor, a receita de sua indústria editorial em 2014 representou apenas 2,12% do faturamento mundial do setor.

O percentual confirma matematicamente a pertinência dos esforços a serem feitos para ampliar o número de leitores no País, fator decisivo para o avanço em indicadores cruciais, como educação, saúde, segurança e distribuição de renda, cuja melhoria está ligada de maneira intrínseca ao acesso à informação e ao conhecimento.

No ano passado, foi de 59,3 bilhões de euros o faturamento das 56 maiores editoras de livros do mundo. O número significou avanço de 11% em relação a 2013. O Ranking Global de Editoras é elaborado desde 2007 pela revista francesa Livres Hebdo, em parceria com sites especializados dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, China e o PublishNews do Brasil, dentre outros.

A última pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada pela FIPE/USP para a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), mostra que a receita do setor em 2014 foi de 5,4 bilhões de reais, ou 1,26 bilhão de euros (ao câmbio de 7 de outubro de 2015). O valor é equivalente a 2,12% do resultado mundial.

Verificaram-se avanços nos últimos tempos no sentido de se ampliar o número de leitores em nosso país, de 1,2 livro/ano, conforme releva a última edição da pesquisa Retratos da Leitura. Esse índice, contudo, ainda está muito aquém do potencial do mercado brasileiro e explica o porquê de nossa participação ainda modesta no faturamento mundial. Por isso, temos insistido na necessidade de se ampliarem os canais de disseminação do livro, como feiras e festivais, encontros com escritores, leitura nos parques e bibliotecas volantes, dentre outras iniciativas.

Esses projetos devem envolver as iniciativas pública e privada, incluindo as escolas, professores e famílias, todos engajados nessa grande causa do conhecimento. É preciso lembrar que o advento da internet, das redes sociais e demais mídias eletrônicas, em paralelo a todos os benefícios que acarreta à comunicação e ao próprio acesso à leitura, exige que a sociedade tenha mais cultura de base e formação adequada.

Afinal, a Web é um território indomado, no qual as pessoas que não têm um mínimo de informação acabam sendo presa fácil para conteúdos inverídicos, causas políticas e religiosas radicais, atitudes exageradamente sectárias, a violência e a retórica dos falsos profetas. O livro, em sua forma tradicional ou eletrônica, é a grande bússola no universo inóspito da Web e nos labirintos da complexa civilização contemporânea, capaz de orientar os indivíduos e estabelecer parâmetros capazes de separar verdades e mentiras e ajudar a todos a entender o mundo.

É, ainda, a mídia mais eficaz para a assimilação dos conteúdos científicos e didáticos, ferramenta indispensável à boa escolaridade, desde a Educação Infantil, passando pelo Ensino Fundamental e o Médio, até a universidade. O mundo está em ebulição, no Oriente Médio, na África, na Ucrânia, na persistente ameaça global do terrorismo e na violência cotidiana da criminalidade. A economia também tem sido algoz da civilização, com crises frequentes.

Neste artigo, faço um quase “plágio” do título da obra prima do genial Gabriel García Márquez, para dizer que a consciência em tempos de cólera (não a doença, mas a convulsão global) é a melhor alternativa das pessoas e da sociedade para enfrentar os problemas e melhorar o mundo.

Leitura para todos, portanto, é decisiva e premente!

(*) – É presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).