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Como o ESG impacta na decisão de compra na Europa, Estados Unidos e Brasil

em Artigos
segunda-feira, 24 de março de 2025

Eduardo Abichequer (*)

No cenário global, práticas sustentáveis deixaram de ser apenas uma tendência e tornaram-se fatores decisivos na escolha de produtos, mas essa transformação ocorre de formas distintas entre os hemisférios. No Norte, consumidores estão cada vez mais dispostos a pagar mais por produtos que garantem práticas alinhadas ao ESG (ambiental, social e governança), integrando a sustentabilidade como um critério de compra essencial. Já no Hemisfério Sul, apesar do crescente interesse em ESG, questões econômicas e sociais ainda pesam mais na balança, tornando o caminho para a adoção consistente de práticas sustentáveis mais graduais.

Mas qual a diferença entre os dois hemisférios e quais fatores culturais influenciam para o comportamento dos consumidores de cada região?

Hemisfério Norte: urgência e integração cultural
Nos países do Norte, como Estados Unidos e Europa, a sustentabilidade é uma questão de sobrevivência. Desastres naturais frequentes — furacões, tempestades e incêndios florestais — tornam as mudanças climáticas tangíveis e imediatas. Consumidores vivenciam as consequências ambientais diretamente e, por isso, integram práticas sustentáveis em suas decisões de compra.

Essa conscientização climática reflete-se no rigor regulatório. Iniciativas como a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) da União Europeia exigem que milhares de empresas detalhem suas práticas ESG até 2025. Empresas que ignoram essas expectativas enfrentam riscos de reputação e perda de competitividade.

Nessa realidade, marcas que destacam seus compromissos ambientais e sociais, têm uma vantagem. Ao utilizar materiais de baixo impacto ambiental e enfatizar práticas de produção responsáveis, podemos fortalecer nossa presença nesses mercados, alinhando-nos às expectativas de consumidores que valorizam tanto sustentabilidade quanto qualidade.

Hemisfério Sul: um caminho de conscientização gradual
Já no Hemisfério Sul, especialmente, em países como Brasil e Argentina, o impacto ambiental resulta mais de ações humanas, como desmatamento e urbanização. A degradação de ecossistemas, como a Amazônia, alerta para a necessidade de práticas sustentáveis, mas a adoção de ESG ainda está em estágio de amadurecimento.

No Brasil, o mercado de investimentos sustentáveis já movimenta cerca de R$ 1 trilhão em ativos, mas desafios como o “greenwashing” — alegações falsas de sustentabilidade — ameaçam a confiança dos consumidores. Embora a regulamentação esteja alinhando-se aos padrões globais, o foco em questões econômicas e sociais, como desigualdade e acessibilidade, faz com que preço e conveniência ainda prevaleçam sobre a sustentabilidade nas decisões de compra.

Inclusive, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 62% dos consumidores consideram difícil encontrar produtos sustentáveis nas lojas e 45% afirmam não verificar se os produtos que compram foram produzidos de forma ambientalmente sustentável.

O desafio para empresas brasileiras que estão à frente neste assunto, portanto, é educar o público sobre os benefícios de longo prazo das práticas ESG — sigla, inclusive, que apenas 34% dos brasileiros conhecem, segundo Ipsos Public Affairs. Isso exige uma narrativa que vá além do produto, mostrando o impacto positivo para o futuro da sociedade e do planeta.

Uma oportunidade global para marcas conscientes
O cenário global caminha para uma adaptação cada vez mais ampla e profunda às iniciativas sustentáveis, e a indústria já está na direção desta transformação. A diferença entre os hemisférios tornam-se mais evidentes: no Norte, a sustentabilidade é uma necessidade imediata, enquanto no Sul ainda é percebida, em muitos casos, como uma responsabilidade moral em evolução. Contudo, essa disparidade diminui à medida que as demandas por práticas ESG ganham força em ambos os lados.

Empresas que conseguirem ajustar suas estratégias para contemplar essa nova realidade, equilibrando conscientização e ação, terão uma vantagem competitiva. O Brasil, por exemplo, já conta com negócios que nascem com a sustentabilidade no DNA, enfrentando barreiras culturais, mas persistindo em seu compromisso. Aqueles que mantêm o foco em inovar de forma sustentável têm a oportunidade de liderar essa transição, influenciando mercados locais e internacionais.

Assim, ao unir conforto, qualidade e impacto ambiental positivo, essas empresas não apenas atendem às expectativas dos consumidores, mas também promovem um consumo mais consciente e responsável. Essa é uma oportunidade única para marcas de todos os setores, em qualquer hemisfério, posicionarem-se como agentes de mudança. No fim das contas, independentemente das diferenças regionais, o objetivo é o mesmo: construir um futuro mais sustentável para todos, gerando valor econômico, social e ambiental que transcenda fronteiras.

(*) CEO da Yuool.